Seade na Imprensa
14/10/24
Expectativa de vida volta a aumentar

Jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba – 12/10/2024

A pandemia da Covid-19 trouxe desafios sem precedentes para toda a sociedade, mas os idosos enfrentaram um dos maiores impactos. O isolamento prolongado, a incerteza e o medo de contrair a doença tornaram a vida desses cidadãos especialmente difícil. A Fundação Seade divulgou recentemente um estudo revelando que a expectativa de vida no Estado de São Paulo em 2023 alcançou 77,2 anos, superando o recorde anterior de 77,0 anos registrado em 2020. Agora, depois da amarga experiência das restrições e isolamentos que passaram, muitos idosos estão redescobrindo o valor de uma vida ativa, buscando maneiras de manter a saúde física e mental em alta.

O estudo da Seade aponta que a esperança de vida masculina foi estimada em 74,0 anos, um aumento de um ano em comparação a 2022, enquanto a feminina alcançou 80,3 anos, com um acréscimo de 0,9 ano.

A retomada do crescimento iniciou em 2022 e teve continuidade em 2023, recuperando indicadores de longevidade após rápido declínio causado pela alta mortalidade durante o período da pandemia de Covid-19 (2020 e 2021).

Reabertura das portas

Um dos principais reflexos desse retorno à vida ativa está sendo observado em clubes e centros de convivência para a terceira idade. O Clube do Idoso em Sorocaba, por exemplo, voltou a ser um ponto de encontro vibrante e cheio de alegria. As aulas de dança, flauta, violino e de musculação atraíram aqueles que sentiam falta do convívio social e dos benefícios das atividades físicas.

A notícia sobre o aumento na expectativa de vida traz à tona reflexões profundas entre os idosos. Maria Ruiz de Campos tem 84 anos e é frequente da academia do Clube do Idoso Sorocaba. “Com 60 anos, eu comecei a participar da academia e gostei muito. Sempre ia com máscara e sempre limpávamos todos os aparelhos. Ainda tenho álcool para desinfetar”, disse Maria.

Maria restringia um pouco a sua ida à academia por se sentir vulnerável ao vírus. “A academia é muita pessoa, e como já tenho mais idade, apesar que eu tenho bastante resistência, a gente tem medo, né? Mas eu sempre tive saúde, então eu frequento. Isso aqui é importante para todo mundo, principalmente para a pessoa mais idosa.”

Para José Carlos de Freitas, um amante de saraus, a pandemia fez com que ele se sentisse na obrigação de movimentar o seu corpo. “Sem poder participar de saraus sentia ansiedade. Então eu comecei a procurar a academia.”

José é frequentador da academia desde 2022. Ele começou a praticar exercícios físicos porque se sentia isolado. “Acho que os velhos sentindo-se isolados é a pior coisa que tem. É o que mais derrota o corpo do ser humano. Sentir a solidão, né? Então, eu comecei a procurar a academia e eu vi que faz falta mesmo. Porque eu me sinto muito bem”, exclama José.

Ademir Stange também frequenta a academia do Clube do Idoso. Ele conta que prefere ir ao local fazer seus exercícios porque lá consegue bater um papo, rir e aproveitar o ambiente e os colegas. “Faço a minha rotina assim. Em casa tenho meus pesos e tudo, mas eu não consigo fazer. Prefiro vir aqui.”

Com as complicações e restrições de não poder sair de sua casa, Eleny de Góes Oliveira, 80, conta que achou uma solução para realizar seus treinos, na sacada da casa durante a pandemia. “Embora seja pequenininha, pegava sol. Inclusive, nós nos dividimos, eu e meu marido. Uma hora para mim, outra hora para ele. Eu já praticava atividades em outros lugares, então, adaptei alguns exercícios. Mas daquele espaço até a caminhada eu fazia e superamos, passamos por essa”, conta Eleny.

O exercício físico é muito importante para a vida de todos, não apenas aos idosos. Mas muitos outros senhores e senhoras sentiram falta de se reunir com seus amigos, seja para jogar baralho, conversar e até sair. Malvina de Oliveira Sanson sentiu falta das reuniões que fazia com sua família e amigos. “Eu gosto muito de amizades, festas e reuniões, né? Então, isso me fez muita falta.” Ela não deixava de se cuidar, tomando suas vitaminas e recomendando-as para suas amigas. “Eu acho que mesmo na pandemia, em todo lugar, a gente tem que estar sempre se cuidando. Sou muito naturalista, optei por não tomar remédios.”

Superação

Mesmo com várias histórias de adaptações na pandemia, muitos perderam um parente ou um ente querido. Francisco de Medeiros Ramos perdeu sua esposa. “Foi difícil para mim, porque eu tinha medo de sair de casa, medo de pegar o vírus”, descreve. Ele conheceu o Clube do Idoso, fez novas amizades e participa das atividades. “Hoje em dia saio mais de casa, tenho novos amigos. Aos poucos vou enfrentando esse medo”, observa.

Perder um familiar pode ser muito triste, mas, para Francisco é preciso aproveitar a vida ao máximo, não deixando de viver pela perda de um ente querido. “Tem que sair, tem que se divertir. Eu tô participando de tudo que eu posso. Quando podemos, fazemos alguma atividade juntos, almoço, churrasco e outras coisas. Então, o que eu tenho pra falar é… Aproveita a vida, porque a gente não sabe quando a gente vai. Então, enquanto a gente tá aqui, temos que aproveitar. Aproveitar ao máximo. Aproveitar ao máximo da gente”, diz Francisco com um sorriso no rosto.

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