
Jornal O Estado de S. Paulo – 13/7/2025 – Artigo do economista Luis Eduardo Assis
O Brasil, sabe-se, envelheceu antes de ficar rico. A expectativa de vida do brasileiro atingiu 76,4 anos para os nascidos em 2023. Essa marca é ligeiramente menor que a expectativa dos italianos em 1990, há 35 anos. Nossa renda per capita em 2023 era de US$ 21,17 mil, no conceito de paridade de poder de compra. A renda per capita italiana de 1990, ajustada pela inflação do perÃodo, seria hoje algo como US$ 43,2 mil. Em 1990, nossa renda média era de apenas US$ 6,69 mil. Envelhecer pobre é uma experiência nova para um paÃs e o Brasil lidera essa mudança.
Há uma mirÃade de consequências, mas duas se destacam. A primeira, claro, é sobre as finanças públicas. Gastos com previdência e saúde, que já pressionam o Orçamento, tendem a ganhar espaço ao longo do tempo, o que acirrará o conflito pela disputa de dinheiro público. Em algum momento, as regras para a aposentadoria deverão ser revistas, alterando a idade mÃnima e desvinculando o benefÃcio do salário mÃnimo.
Na saúde, a margem de manobra é menor. O Ministério da Saúde estima que 8,5% das pessoas com mais de 60 anos sofram de algum tipo de demência, exigindo cuidados que vão muitas vezes além da atenção da famÃlia. Para 2050, a estimativa é de 5,7 milhões de idosos afetados ? sem falar nas outras doenças.
Na outra ponta, em tese, gastos com educação infantil poderiam abrir espaço, já que a população nessa faixa etária é cada vez menor. Para a cidade de São Paulo, por exemplo, a Fundação Seade estima que o número de pessoas com menos de 14 anos tenha caÃdo de 2,59 milhões em 1990 para 2,26 milhões em 2025. Prevê-se que será apenas 1,77 milhão em 2050.
Nasceram 2,52 milhões de brasileirinhos em 2023, o que configura a menor taxa de natalidade desde 1976. Trata-se da quinta redução consecutiva em números absolutos, com queda de 12% em relação à média entre 2015 e 2019. Mas hoje é ilusório imaginar que os gastos com educação básica possam recuar. Outra revolução se dá na organização do setor produtivo.
Bens e serviços direcionados aos mais velhos tendem a crescer de forma desproporcional ao avanço do PIB. O número de farmácias, apenas um exemplo, passou de 68 mil em 2012 para cerca de 100 mil hoje. Nesse mesmo perÃodo, a fabricação de brinquedos caiu 60,8% (em boa medida, sob influência da demografia, além de outros fatores).
Há adaptações simples. No Japão, desde 2011, a venda de fraldas para adultos supera a venda para crianças. Mas nem sempre é tão fácil ? como devem saber os fabricantes de chupetas.
O “tic-tac dos relógios é a máquina de costura do tempo a fabricar mortalhas”, nos disse Mário Quintana. Parece agora que as mortalhas são mais elaboradas, demoram mais para ficarem prontas. Isso muda tudo. Quem viver verá.
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