Seade na Imprensa
26/05/25
Tech Day 2025: três empresas usando IA Generativa para inovar

Site InfoChannel – 24/5/2025

A Inteligência Artificial não impacta apenas a relação entre as nações do mundo. O Tech Day 2025, realizado na quarta-feira (21) na sede da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), com apoio da InforChannel, também debateu os usos que as empresas têm feito dessa tecnologia para se tornarem mais eficientes e, claro, ganhar clientes e mercado.

A primeira empresa a passar pelo palco da terceira edição do evento foi a Totvs, fabricante brasileira de software para gestão empresarial. O case apresentado foi principalmente interno: Cristiano Nobrega, CDAIO responsável pela estratégia de Dados e IA na empresa, deu alguns detalhes sobre da IDeIA, plataforma oferecida aos clientes internos para acessar e padronizar o acesso a modelos de IA com “segurança e governabilidade”.

O maior desafio, segundo o executivo, era garantir a escalabilidade das iniciativas sem centralizar o acesso, abordagem tentada pela Totvs no passado, mas sem bons resultados. “Não existe do nosso lado uma abordagem centralizada que funcionasse como uma ‘fabriquinha’ para todas as áreas. Certamente seria um grande problema operacional”, explicou ele.

Além da plataforma, outro elemento fundamental, e na opinião de Nobrega o mais importante de todos, é criar uma cultura de uso de IA – uma tarefa difícil em um “ambiente heterogêneo com 15 mil funcionários”. “Estamos permanentemente testando formas, porque talvez não exista uma que sirva para todas as situações”, ponderou.

Pesquisas e estatísticas nacionais

Para o Centro de Ciência de Dados para Estatísticas Públicas (CCDEP) da Fundação SEADE, a Inteligência Artificial é tanto um desafio de adoção quanto uma oportunidade de aprimorar a forma de coletar e divulgar indicadores. O órgão, ligado à Secretaria de Planejamento e Gestão do governo do estado de São Paulo, produz análises e estatísticas socioeconômicas e demográficas com base em pesquisas diretas e pesquisa de informações de outras fontes.

“O modo como produzimos estatísticas tem mudado muito, assim como nossa vida. (…) Nos últimos de 10 a 12 anos os processos viraram de cabeça para baixo, e quem não está percebendo isso vai ficar para trás”, ponderou Carlos Eduardo Freire, diretor do CCDEP, durante o Tech Day.

O executivo deu detalhes sobre os usos que a entidade vem fazendo da Inteligência Artificial. Por exemplo, para capturar anúncios de investimentos feitos pelas empresas e publicados na mídia. É uma espécie de “clipping” automatizado, capaz de “quebrar os cookies” dos sites e trazer informações públicas, de modo a serem tabulados e então confirmados pelos times de pesquisa.

O Centro também está usando robôs com IA Generativa para fazer pesquisas por telefone. A ideia é fazer a coleta automatizada de áudios, de forma guiada, e depois extrair as opiniões dos respondentes. A IA também está sendo usada para extrair Dados de documentos digitalizados em formato de imagem, como certidões antigas de casamento e óbito, por exemplo. Também para pesquisas de origem e destino de transporte público a partir de Dados das catracas.

“No futuro, queremos ter um modelo de IA Generativa treinado com as bases do Seade e que torne possível aos pesquisadores fazer perguntas. Que a partir de um ‘prompt’ pode prover informação para pesquisadores e a população”, explicou Freire. O projeto já está em andamento, com fundos aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e colaboração com instituições de ensino e governo.

Cinema Generativo?
Outro caso apresentado no Tech Day e que chamou atenção dos presentes foi o da The Future Studios, produtora brasileira de audiovisual que usa Inteligência Artificial para produzir campanhas publicitárias híbridas ou totalmente geradas por IA. Marcas como Havaianas, Sportingbet, Natura e Coco Quadrado já tiveram peças produzidas pela agência.

Cacau Moraes, sócio fundador, demonstrou aos presentes o potencial da tecnologia: vídeos inteiros feitos somente com IA Generativa e dificilmente distinguíveis dos filmados com seres humanos e animais de verdade. Outros em que filmagens no mundo físico se misturam a efeitos produzidos com a tecnologia.

Mas, segundo ele, não se trata de simplesmente dispensar os sets cheios e os atores das campanhas publicitárias, mas de alcançar novos níveis de criatividade e de derrubar barreiras de custo e de entrada no mercado.

“Existe muito trabalho em cima do prompt para chegar nos resultados que trouxemos aqui”, garantiu ele. “Todos os detalhes são importantes. Avançamos a cada dia, mas existe uma lapidação muito grande em cima de cada cena.” É claro que ainda existem limitações para o uso de IA Generativa em filmes e campanhas, explicou Moraes. “Nada adianta ter uma ferramenta tão poderosa se você não souber empregar uma visão artística, o ‘craft’, como o mercado chama”, ponderou.

Pedro De Santi: ‘a IA não é um oráculo, não é um deus’

“Muitas pessoas têm delegado decisões à Inteligência Artificial. Claro que preocupa quantos trabalhos deixarão de existir [por causa da tecnologia]. Sim, existirá um miolo de empregos que deixarão de existir. Mas a questão para mim é o quanto estamos delegando à máquina.”

A reflexão acima, feita por Pedro De Santi, psicanalista e professor de psicologia da ESPM, da PUC-SP e da USP, entre outras instituições, não é apocalíptica. “Eu não sou um catastrofista”, assegurou ele próprio no encerramento do Tech Day 2025, realizado na quarta-feira (21) na sede da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), com apoio da InforChannel.

“Minha função é fazer refletir, não dar conselhos”, disse ele, assumindo o papel do bom psicanalista em frente a plateia. Para ele, a grande preocupação trazida pela Inteligência Artificial é a dependência em que algumas pessoas parecem estar se colocando frente às tecnologias. E que a IA não é dona dos saberes humanos. “Confundir Dado e informação com sabedoria. Não é a mesma coisa”, resumiu o especialista.

“Dados não são coisas, não são realidades, mas sim uma tradução de uma realidade que pode ser quantificada e tabulada. E a IA não é um oráculo, não é um deus. Ela foi alimentada com Dados por alguém que tem interesses.”
Segundo ele, a ambivalência do ser humano frente a cada nova tecnologia é observável há muitos séculos. Na mesma medida em que entendemos que aquela novidade será capaz de nos poupar de certa carga de trabalho, também ficamos alertas frente à possibilidade de ela nos tornar inúteis, sem função.

Perigo das redes
O psicanalista também fez alertas ao comparar a IA com outra tecnologia cujos efeitos negativos já percebemos no dia a dia: as mídias sociais, que ele chamou de “figura terrível de alteridade”. “Você faz o post e treme”, disse ele, a respeito da ansiedade que essas redes causam, sobretudo aos mais jovens.

“Quanto a internet começou, pensamos que era para termos acesso à alteridade, ao diferente. Hoje o algoritmo nos impõe uma identidade, e cria bolhas absolutamente psicóticas com relação às outras”, ponderou ele. “Esses pressupostos de identidade são perigosos, pois perdemos a referência de realidade.”

Isso não significa que devemos simplesmente abandonar as redes sociais ou a Inteligência Artificial, ressaltou De Santi. “É para usarmos, mas precisamos aprendermos a usar.”

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