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10/03/25
Volta ao mercado de trabalho é esperança para mulheres

Correio Popular, de Campinas – 8/3/2025

Tereza Pacheco, 56 anos, renovou ontem as esperanças de conseguir um emprego com carteira assinada. Ela está desempregada há três anos e foi encaminhada para uma entrevista de trabalho. “Espero conseguir alguma coisa. Quero voltar a ser CLT [registrada com base na Consolidação das Leis dos Trabalho] para voltar a ter meus direitos e porque o corpo já começa a reclamar”, explicou. O sonho dela é voltar a ter férias remuneradas, 13º salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e garantir a aposentadoria.

De certa forma, é o mesmo de outras centenas de mulheres participantes ontem do Feirão de Emprego e Oportunidades do Centro Público de Apoio ao Trabalhador (CPAT) de Campinas focado no público feminino, em função de hoje ser comemorado o Dia Internacional da Mulher. O último trabalho com registro de Tereza Pacheco foi como doméstica, em 2021. Desde então, ela tem garantido alguma renda como faxineira, mas é um trabalho esporádico. A diarista reforça as estatísticas oficiais de que o mercado de trabalho feminino tem melhorado, mas elas ainda enfrentam barreiras.

O levantamento da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram essa dualidade. O Estado de São Paulo fechou o último trimestre de 2024 com 11,87 milhões de mulheres empregadas, o maior número da desde 2012, quando o estudo começou a ser feito. A taxa de desemprego entre elas é de 7,2%, também a menor da série histórica de 12 anos, mas é maior em relação à média geral paulista, 6,2%.

Etarismo

Uma outra pesquisa feita por duas empresas de recrutamento e inovação mostrou o etarismo ainda como uma dificuldade para seguir no mercado de trabalho, independente do gênero. Feito com 258 empresas, o estudo relevou que 70% contrataram muito pouco ou nenhum profissional com mais de 50 anos. Na prática, isso representa que 5% das novas contratações disponíveis para pessoas acima dessa faixa etária. A pesquisa contrasta com a inversão da pirâmide etária no Brasil e prolongamento da expectativa de vida da população.

“As empresas não se dão conta que a população brasileira está envelhecendo, embora os dados sejam evidentes”, afirmou Maria José Tonelli, doutora em Psicologia Organizacional e professora no departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Nós tínhamos socialmente um modelo de que as pessoas chegavam nos 50 e 60 e tinham que se aposentar, mas isso não é mais factível”, completou ela, apontando ser cada mais comum ver pessoas mais velhas trabalhando.

Essa é a realidade da operadora de caixa Eliete Oliveira, 59 anos, que comemora as oportunidades surgidas para os trabalhadores ‘cinza’, uma alusão aos cabelos grisalhos. Depois de três anos desempregada, ela conseguiu um emprego no final de 2023 em um atacadista no bairro da Ponte Preta, em Campinas. “Acredito que estão surgindo mais oportunidades para pessoas com mais de 50 anos”, afirmou Eliete Oliveira, que mudou de ramo de atividade. Antes, atuava com telemarketing. A nova oportunidade de trabalho lhe garantiu estabilidade e a estimulou a buscar um novo emprego mais perto do bairro Matão, em Sumaré, onde mora. “Estou feliz onde estou, é uma boa empresa, mas quero diminuir o tempo que gasto para me locomover”, explicou.

Ponto Positivo

Para Eliete Oliveira, as vagas para o público 50+ estão aumentando “porque as empresas sabem que somos mais responsáveis”, além de aceitarmos trabalhar nos finais de semana e feriado, como é o seu caso. “Os jovens são mais exigentes e não aceitam essas condições”, completou. Ela aproveitou as férias para participar do 4º Feirão do Emprego do ano, que disponibilizou cerca de mil vagas, incluindo 271 oferecidas por dez empresas participantes do evento e do Painel Virtual do CPAT.

Uma indústria ofertou 15 vagas de separador de materiais recicláveis exclusivamente para mulheres de 50 anos ou mais. “Muitas mulheres são chefes de família, sustentam sozinhas suas casas, cuidam dos filhos, dos pais e, por circunstâncias da vida, podem estar em uma situação de desemprego. Esse feirão foi pensado especialmente para que possamos acolher essas mulheres e trazer ofertas de emprego diversificadas que atendam a diferentes perfis de escolaridade e áreas”, afirmou o secretário de Trabalho e Renda, Paulo Sérgio de Andrade.

Um outro estudo do IBGE revelou que o mercado de trabalho segue desigual para as mulheres mesmo em cargos de chefia, recebendo salários menores, apesar de terem escolarização superior à masculina. Segundo o levantamento, mulheres em cargo de gerência tiveram, em 2022, rendimento médio de R$ 6.600, 21,2% abaixo em comparação aos R$ 8.378 pagos aos homens. Além disso, a presença feminina nesses cargos é menor. Segundo a pesquisa, do total de pessoas em cargos gerenciais, 60,7% eram homens e 39,3% mulheres.

Essa discrepância ocorre mesmo elas estarem na frente quanto ao nível de instrução. Segundo o levantamento, 21,3% das mulheres concluem o ensino superior, enquanto a taxa dos homens é de 16,8%. “Tem setores em que a taxa de ocupação [feminina]em cargos de gerência é baixíssima. Tem vários elementos que explicam isso, desde a dificuldade de contratação até o forte preconceito de empresas em relação a mulheres que têm filhos”, afirma Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.

Carreira

A especialista em mercado de trabalho Lina Nakata admitiu haver diferença na seleção para promoções de cargos “Muitas vezes, quando uma mulher é avaliada para um passo seguinte na carreira, os outros que avaliam costumam pensar ‘falta mais uma competência ou habilidade, vamos esperar’. Para os homens, esses avaliadores costumam pensar ‘falta essa competência ou habilidade, mas ele consegue se virar e se adaptar’”, explicou.

Essa dificuldade, porém, não desanima quem está em busca de um emprego melhor. Formada em assistência social há nove anos, Paula Vicensi, 48 anos, segue na busca por um emprego em sua área. “O problema é que as empresas exigem experiência, ninguém dá a primeira chance. Como ter experiência sem ter a primeira oportunidade?”, questionou. Desde que saiu da faculdade, ela tem trabalhado com atendimento ao público e outras funções fora de sua formação acadêmica.

Para superar o empecilho da falta de experiência, também tem atuado como voluntária em entidades e se preparado para concursos públicos. Paula Vicensi perdeu o emprego na semana passada e ontem foi ao Paço Municipal em busca de uma nova vaga no feirão. “Enquanto não aparece o que eu quero, tenho que me virar com o que surgir”, afirmou.

As barreiras também existem para quem está a procura do primeiro emprego. A estudante Ana Luíza Coutinho Laina, 19 anos, aproveitou o evento para tentar um estágio na área de secretariado. Ela está há três meses em busca de uma vaga, fez algumas entrevistas, mas ainda sem sucesso. “Se eu gostar da área administrativa, pretendo fazer outros cursos e seguir carreira”, disse. A taxa de desemprego feminino caiu 1,5 ponto percentual no Estado em 2024. No primeiro trimestre do ano passado foi de 8,7%. Essa melhora do mercado de trabalho abre a possibilidade para algumas mulheres escolherem a vaga. “Até que não está difícil conseguir um emprego, mas para o que eu quero, sim”, afirmou a auxiliar de limpeza Rose Ferreira, 38 anos. Ela busca um emprego em garagem de ônibus. “É o que eu gosto de fazer” disse ela, enquanto aguardava ser entrevistada no Feirão do Emprego.

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