Imprensa

19.11.2020

Pandemia eleva desigualdade entre brancos e negros

Jornal Metro – 18/11/2020
Os negros sofrem mais com desemprego e redução de renda durante a pandemia do novo coronavírus que a população branca, mostra recorte realizado pela Fundação Seade às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado na próxima sexta-feira.
O reflexo da alta desproporcional da taxa de desocupação entre as populações é o aumento das diferenças. O levantamento do órgão de dados do governo de São Paulo, com base nas pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que no 2º trimestre, momento de maior força da pandemia, a retração do nível ocupacional no estado para negros foi de -15,9%, ou menos 1,4 milhão de ocupados. Já para os não negros, foi de -7,1%, ou menos 949 mil ocupados.
O valor médio recebido pelos negros (R$ 1.921) manteve expressiva diferença (55%) quando comparado aos não negros (R$ 3.468) no período.
O comportamento se repete em todo o Brasil. De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação da população classificada como preta passou de 15,2% para 17,8% entre o primeiro e segundo trimestre do ano. Entre os brancos, ela foi de 9,8% para 10,4%. A diferença entre pretos e brancos em pontos percentuais que era de 5,4 passou para 7,4 durante a pandemia.
A economista da Fundação Seade Paula Montagner afirma que mais negros ocupam cargos em setores bastante impactados pela crise, como os serviços, que inclui restaurantes e salões de beleza, por exemplo. Eles estão mais presentes também nas vagas informais. ?São todas áreas que tiveram muitas restrições na pandemia e que retomaram as atividades ainda em ritmo muito lento. Quem perdeu o trabalho encontra dificuldade para retornar ao mercado.?
Para a economista, a questão da ocupação por setores camufla o maior problema: o preconceito que exclui negros de vagas de melhor remuneração. “Temos elementos objetivos para mostrar que a população negra está com mais dificuldade no mercado de trabalho. Mas por que eles estão concentrados nessas áreas? Tem a ver com a discriminação.”
Paula diz acreditar que dar visibilidade a essas diferenças auxilia o debate e ressalta a importância de ações de inclusão. “A população negra precisa ter elementos que a traga ao mercado de trabalho. As cotas nas universidades foram grandes iniciativas. Precisamos de elementos que levem os negros para as vagas de direção.”