Imprensa

02.03.2023

Empresa investe R$ 10 bilhões na construção de data center em Paulínia

Correio Popular – 2/03/2023

A multinacional norte-americana CloudHQ iniciou oficialmente na quarta-feira (1º) a construção de um data center em hiperescala em Paulínia, que receberá inicialmente investimento de US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões) e será o maior do país. O campus, que deverá entrar em operação no segundo semestre do próximo ano, ocupa uma área de 200 mil metros quadrados. É o primeiro da empresa no Brasil e o maior da companhia em todo o Hemisfério Sul. Em sua primeira fase, o complexo terá 144 MW de capacidade instalada, que é 3,6 vezes a mais do que o maior data center hoje em operação no país, que está instalado em Vinhedo, também na região de Campinas.

A CloudHQ tem planos, porém, de iniciar a construção de outros três prédios, logo após a inauguração da primeira fase, que dobrará a potência instalada, chegando 288 MW, com o investimento em todo o projeto totalizando US$ 3 bilhões (R$ 15,6 bilhões). O empreendimento gerará cerca de 1 mil empregos na fase de construção, mas não a empresa não divulgou uma estimativa de vagas criadas quando estiver concluído.

Para se ter uma dimensão, esse investimento sozinho representa 85,43% dos R$ 18,26 bilhões divulgados em 2022 por diferentes empresas para serem aplicados nas 40 cidades da Região Administrativa de Campinas, de acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Além disso, é o maior investimento anunciado por uma empresa no Estado de São Paulo em 11 anos, que é o período de dados disponibilizados pelo órgão do governo estadual.

O início das obras levou a Paulínia o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e o fundador e CEO da CloudHQ, o iraniano Hossein Fateh, além de outros empresários e políticos. Um data center em hiperescala dispõe de instalações gigantes construídas por empresas com grandes necessidades de processamento e de armazenamento de dados ou para atender terceiros, que é o caso da multinacional norteamericana.

Voltado para o Brasil

De acordo com o gerente de Desenvolvimento de Negócios da companhia, Gabriel Alday, a unidade de Paulínia será voltada para atender clientes que atuam no Brasil através do armazenamento em nuvem. Esse é um modelo de computação que permite guardar dados e arquivos na internet por meio de um provedor de computação, o que possibilita o acesso de qualquer parte do planeta através de uma rede pública ou conexão de rede privada.

O país ocupa hoje a 50ª posição entre os 76 países analisado pelo Global Cloud Ecosystem Index, classificação que avalia a tecnologia, os regulamentos e o talento para promover a disponibilidade de serviços em nuvem. O Brasil aparece atrás de outros países da América do Sul, como Chile (37º), Uruguai (39º) e Argentina (48º). O ranking é liderado por Singapura, Finlândia e Suécia.

“É importante que os dados gerados no Brasil fiquem no Brasil”, diz o CEO da CloudHQ. A posição de Fateh vai ao encontro de um projeto lançado pela França e Alemanha, o Gaia-X, para garantir a soberania de dados, em função das informações armazenadas serem consideradas estratégicas para empresas e governos. É um plano ambicioso para garantir uma infraestrutura em nuvem e evitar a dependência de países como Estados Unidos e China.

Alday explica que Paulínia foi escolhida para sediar as operações da CloudyHQ por fazer parte de uma região com grandes centro de pesquisa, universidades e ser um importante polo econômico, além de estar próxima de uma grande rede de transmissão de energia elétrica. Um data center é um grande consumidor de eletricidade, tanto para o funcionamento dos computadores de grande porte quanto para o controle da temperatura do ambiente onde estão instalados.

O campus de Paulínia terá a sua própria rota diversificada de fibra óptica subterrânea, que conectará o projeto aos principais pontos de troca de internet na região e provedores de nuvens no mercado. Também faz parte do projeto a construção de uma subestação e as linhas de transmissão que conectarão o centro de dados à rede nacional de energia em alta tensão, com conclusão programada para o primeiro semestre de 2024.

Desenvolvimento econômico

A CloudHQ aguarda aprovação do projeto para a instalação de um segundo campus no Brasil, em São João do Meriti (RJ), que será menor do que o de Paulínia. A empresa já tem data centers nos Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e projetos para a instalação de novas unidades na Itália, México, Holanda e outros países.

A unidade de Paulínia já poderá ser beneficiada pelo projeto anunciado pelo governador Tarcísio de Freitas na última segunda-feira, que reduz os custos de produção e estimula a economia no Estado. Ele assinou 11 decretos que diminuem a carga tributária de vários segmentos, entre eles o de data center, com as empresas do setor podendo conseguir a suspensão, o diferimento e a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas aquisições de equipamentos.

“Temos que celebrar a chegada de cada investimento. É o maior empreendimento da empresa no Hemisfério Sul e ficamos muito honrados desse investimento estar acontecendo no Estado de São Paulo e em Paulínia”, disse o governador. Ele antecipou, sem entrar em detalhes, que serão anunciadas, em breve, outras medidas para a atração de novas empresas para o Estado com a consequente geração de empregos, entre eles a redução da carga tributária para diversos produtos, qualificação de mão de obra e de promoção de oportunidades de trabalho para jovens aprendizes.

O vice-presidente da República, por sua vez, defendeu que o fim da isenção de impostos federais para a gasolina e etanol, que entrou em vigor na quarta-feira (1º), ajudará o governo a equilibrar as contas públicas, o que cria um ambiente para reduzir a taxa de juros. Para Alckmin, isso também beneficiará os investimentos no Brasil. Ele apontou como outro fator para isso a reforma tributária em discussão no Congresso Nacional.

“Há sentimento na sociedade de que o Brasil não pode continuar com esse modelo tributário, que é um verdadeiro manicômio tributário. É preciso simplificar, o mundo inteiro tem o IVA, Imposto de Valor Agregado”, disse. Segundo estimativa feita pelo Alckmin, a reforma pode resultar em um ganho de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) em 15 anos.