Imprensa

16.10.2023

Petróleo e gás, tecnologia e interiorização: entenda como ‘valor industrial’ na região de Campinas superou capital e é o maior de SP

Site G1, de Campinas – 14/10/2023

 

Um levantamento da Fundação Seade sobre o Valor de Transformação Industrial (VTI) em São Paulo apontou que a Região Administrativa de Campinas (SP) superou a Região Metropolitana da capital e se tranformou na de “maior valor” do estado – entenda, abaixo, o que isso representa.

A participação da indústria de petróleo e gás, que faz de Paulínia (SP) o município com maior VTI em São Paulo, a expansão da região em setores de tecnologia, automobilismo e de outros produtos de alto valor agregado, além da consolidação da interiorização industrial, iniciada nos anos 1990, ajudam a explicar essa mudança.

Para identificar essa alteração na geografia industrial de São Paulo, a Fundação Seade compilou dados entre 2003 e 2021, sendo que essa “valor gerado” pelas indústrias dos 71 municípios que formam a região administrativa de Campinas atingiu 33,1% de todo estado, enquanto a região metropolitana da capital caiu de 40,5% para 28,4% no período.

“Não é que o dado seja surpreendente, mas se achava que a Região Metropolitana de São Paulo, pela infraestrutura, qualidade de mão de obra e outras fatores, fosse preservar empresas de alta tecnologia, por exemplo. Os segmentos mais modernos avançaram para a região de Campinas, que se consolidou e ultrapassou a capital como mais industrializada”, pontua Vagner Bessa, gerente da área de economia da Fundação Seade.

“Não é que o dado seja surpreendente, mas se achava que a Região Metropolitana de São Paulo, pela infraestrutura, qualidade de mão de obra e outras fatores, fosse preservar empresas de alta tecnologia, por exemplo. Os segmentos mais modernos avançaram para a região de Campinas, que se consolidou e ultrapassou a capital como mais industrializada”, pontua Vagner Bessa, gerente da área de economia da Fundação Seade.

O que é o VTI e o que isso significa?

Professor de economia e integrante do Observatório PUC-Campinas, Paulo Oliveira explica que VTI é um cálculo contábil que mostra o que a indústria recebe pelos bens produzidos.

“Éum cálculo que mostra a diferença entre o custo de produção da indústria e as receitas. Agora, para entender melhor o que significa a região de Campinas estar à frente, é preciso fazer um exercício que é o seguinte: o que aumenta o VTI? Ela aumenta tanto pela redução de custos na indústria, quanto também o aumento do valor agregado dos produtos”, explica.

Segundo o economista, esse movimento de migração da atividade industrial mais para o “interior” do estado, com foco em municípios menores, “é uma tendência que vem sendo verificada faz alguns anos”, como estratégia das empresas para aumentar a lucratividade, “o que contribui para aumento do VTI no agregado”.

Paulínia, a de maior VTI

Cidade com 110 mil habitantes, segundo dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Paulínia é que tem o maior Valor de Transformação Industrial (VTI) entre os 645 municípios de São Paulo.

O levantamento do Seade mostra que no estado a participação de Paulínia no VTI subiu de 6,9% para 7,3%, enquanto o da capital teve queda de 14,7% para 6,5%.

“Essa tendência de declínio se repetiu em outros grandes municípios do Estado, como São José dos Campos (7,1% para 4,0%), Guarulhos (4,0% para 3,8%), Cubatão (4,1% para 3,4%), São Bernardo do Campo (5,0% para 3,1%), Santo André (2,2% para 1,3%), Barueri (2,0% para 1,0%) e Campinas (2,5% para 1,9%)”, destaca o Seade

Já cidades como Jundiaí (1,7% para 2,5%) e Piracicaba (1,4% para 2,5%) , que pertecem à Região Administrativa de Campinas, também apresentaram alta.

E isso é positivo?

Paulo Oliveira defende que o número da Região de Campinas apresentado pela Fundação Seade é positivo, mas que é preciso analisá-lo por completo, e não mais do que ele representa.

Nesse contexto, vale pontuar que uma das estratégias para aumento da lucratividade e, por consequência, maior resultado em VTI impacta no emprego, uma vez que o setor industrial pode buscar pela terceirização ou otimização de processos para diminuir custos.

Esse reflexo, de certa forma, aparece nos dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged). O levantamento de agosto da Região Metropolitana de Campinas apontou crescimento nas vagas geradas no setor de serviços com foco no atendimento à indústria.

Segundo Vagner Bessa, ao analisar Paulínia (SP), cidade que aparece com o maior VTI do estado, a frente da capital, o grande volume é gerado pela indústria de petróleo e gás, que não aparece como a que mais emprega – o processo produtivo é quase automatizado.

“Na região administrativa de Campinas, você vai notar que indústrias, principalmente as de tecnologia, se expandiram com pouca mão de obra. Mas quando você olha para a cidade de Campinas, assim como a capital, é um centro importante no setor de serviços e cumpre esse papel de alimentar essa demanda das indústrias”, pontua Bessa.

Balança comercial

Ao analisar os dados, o professor Paulo Oliveira chama atenção para um fator importante da indústria na região de Campinas, que “é altamente deficitária com a balança comercial” – ela importa muito em relação às exportações e boa parte dessas importações é de insumos para a produção.

O economista da PUC explica que esses insumos são parte do custo de produção dessas atividades industriais, e que olhando de uma “perspectiva menor”, isso aponta que parte da terceirização de alguns setores, que seria o de produção de insumos, pode significar “alguma eficiência de custo na produção”.

“Não que isso seja necessariamente bom para o desenvolvimento econômico regional, porque isso significa inclusive menos empregos na região, mas isso pode melhorar o VTI. É uma perspectiva. Ter o maior VTI no contexto de alta importação de insumos para a indústria pode significar alguma coisa não tão boa”, pondera Oliveira.

Mudança na geografia industrial de SP

Vagner Bessa explica que a interiorização é uma política de governo que vem desde os anos 1990, em uma tentativa de construir a infraestrutura no estado, e que os números do Seade mostram que essa medida virou realidade de fato. “Essas questões levam tempo para maturar, e ela chegou”.

Segundo o gerente da área de economia da Fundação Seade, as cidades da região de Campinas tornaram-se a principal opção locacional de indústrias que vem para São Paulo, ou seja, de novas instalações, não necessariamente de empresas que saem da capital – de acordo com Bessa, a cidade de São Paulo passa por uma “desindustrialização”.

Região Administrativa de Campinas

Os 71 municípios que integram a Região Administrativa de Campinas são: Aguaí, Águas da Prata, Águas de Lindóia, Águas de São Pedro, Amparo, Analândia, Araras, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Brotas, Cabreúva, Caconde, Campo Limpo Paulista, Capivari, Casa Branca, Charqueada, Conchal, Cordeirópolis, Corumbataí, Divinolândia, Elias Fausto, Espírito Santo do Pinhal, Estiva Gerbi, Ipeúna, Iracemápolis, Itapira, Itirapina, Itobi, Itupeva, Jarinu, Joanópolis, Jundiaí, Leme, Limeira, Lindóia, Louveira, Mococa, Mogi Guaçu, Moji Mirim, Mombuca, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Nazaré Paulista, Pedra Bela, Pinhalzinho, Piracaia, Piracicaba, Pirassununga, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra, Santo Antonio do Jardim, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, São Pedro, São Sebastião da Grama, Serra Negra, Socorro, Tambaú, Tapiratiba, Torrinha, Tuiuti, Vargem, Vargem Grande do Sul, Várzea Paulista.