Imprensa

27.09.2021

Os biocombustíveis no Estado de São Paulo: desempenho e perspectivas

Estudo da Fundação Seade analisa a indústria dos biocombustíveis no Estado de São Paulo, maior produtor de etanol do país, examinando sua evolução a partir de 2003.

Cana- de- açúcar e etanol

Entre 2003 e 2019, São Paulo manteve a liderança entre os estados brasileiros no que se refere à produção, ao consumo interno e às exportações de etanol, bem como em quantidade colhida de cana-de-açúcar. A produção total de etanol no território paulista ampliou-se de 8,7 milhões m³ para 16,7 milhões m³, nesse período.

A maior quantidade colhida de cana-de açúcar em território paulista (15,9% do total) foi registrada na Região Administrativa de São José do Rio Preto, que mais que triplicou em relação à de 2003 (de 18,7 milhões t para 67,9 milhões t), seguida pela RA de Araçatuba, com alta de 186,0%. Cabe observar, no entanto, que a RA de Presidente Prudente, nona colocada em 2019, teve o maior avanço, com a quantidade colhida passando de 8,2 milhões t para 34,3 milhões t e sua participação crescendo de 3,6% para 8,1%. Entre os 518 municípios paulistas que registraram colheita de cana em 2019, sobressai Morro Agudo (7,6 milhões t), na região de Franca.

Em relação ao etanol hidratado, observa-se que, entre 2003 e 2019, as vendas internas tiveram alta de sete vezes (de 3,2 milhões m³ para 22,5 milhões m³), com São Paulo concentrando a maioria das vendas em todo o período, com ampliação de sua participação de 44,1% para 51,8% no total do Brasil.

As exportações paulistas de etanol cresceram, entre 2003 e 2019, em volume (de 391 mil m³ para 1,9 milhão m³) e proporção (de 51,7% para 94,4%). Em 2019, os principais destinos foram os Estados Unidos (60,6%) e a Coreia do Sul (27,9%). No que se refere aos valores comercializados, o saldo da balança comercial paulista teve apenas resultados positivos. Em 2019, o superávit foi de US$ 777 milhões, o maior montante desde 2013 (US$ 1,6 bilhão) e quase o dobro do saldo nacional (US$ 396 milhões).

Biodiesel

O uso do óleo de soja na fabricação de biodiesel vem crescendo desde 2006, quando a mistura desse produto com o diesel fóssil se tornou obrigatória no Brasil. Em 2019, foram utilizados 4,1 milhões m³ do produto, que correspondem a 67,8% do total de insumos.

As vendas internas de biodiesel cresceram 55% entre 2016 e 2019 (de 3,8 milhões m³ para 5,9 milhões m³), com cinco estados concentrando, em 2019, quase dois terços das vendas das distribuidoras do país, liderados por São Paulo, com participação de 21,1%.

Outros tipos de biocombustíveis vêm sendo desenvolvidos e ganham importância no Estado de São Paulo, em especial a bioeletricidade e o biometano produzidos a partir de resíduos da cana-de-açúcar.

Investimentos anunciados

A Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo (Piesp), elaborada pela Fundação Seade desde 1998, captou investimentos ligados à cadeia produtiva dos biocombustíveis, entre 2018 e 2020, por grandes grupos econômicos do setor de energia, operadores logísticos, montadoras de veículos, centros de pesquisa, entre outros.

A maioria desses investimentos refere-se à expansão e renovação de canaviais, modernização tecnológica no campo e nas usinas, visando aumentar a produtividade e o processamento de cana para fabricar etanol e açúcar e cogerar eletricidade.

O investimento mais elevado (R$ 5,6 bilhões) foi noticiado em 2019, pela Raízen, envolvendo expansão e renovação de canaviais para abastecer suas 24 usinas. Ainda em 2019, a Tereos noticiou R$ 700 milhões destinados à aquisição de caldeira para ampliar a cogeração de energia e à digitalização das operações no campo. Em 2020, o grupo São Martinho anunciou investimentos de R$ 1,5 bilhão. A unidade de Pradópolis, considerada a maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, opera seus 135 mil hectares de canaviais com tecnologia 4.0. Mais três empresas divulgaram, em 2020, investimentos para renovação de canaviais: a Usina Lins, em Lins (R$ 300 milhões), a Usina Batatais, em Batatais (RS 158 milhões) e a Usina Diana, em Avanhandava (R$ 42,2 milhões).

A Piesp também identificou investimentos na construção de unidades produtoras de biometano a partir de resíduos da cana (vinhaça, palha e torta de filtro): R$ 160 milhões da Usina Cocal, em Narandiba (2019) e R$ 153 milhões da Raízen, em Guariba (em 2018).

Impactos da pandemia

O início de 2020 sinalizava otimismo quanto à continuidade do crescimento do consumo de biocombustíveis no país. Porém, a crise sanitária resultou em queda nas vendas internas de abril. A partir de maio, o consumo de etanol hidratado teve seis altas consecutivas, somando 54,9% no Brasil e 48,3% no Estado de São Paulo, oscilando para baixo em novembro, mas retomando o crescimento em dezembro.

Apesar dessas variações, os volumes acumulados em 2020 representaram o segundo melhor resultado para o período desde o início da série histórica, em 2000, tanto para o Brasil (19,3 bilhões de litros), como para São Paulo (10,1 bilhões de litros). Na verdade, foram inferiores apenas aos de 2019: 22,5 e 11,7 bilhões de litros, respectivamente.

A expectativa é de que o horizonte continue promissor para o crescimento do setor de biocombustíveis de São Paulo com a vigência do RenovaBio. O Estado possui experiência consolidada em etanol e desenvolve pesquisas em novas rotas tecnológicas para os biocombustíveis avançados, capazes de ampliar seu protagonismo no setor e contribuir para que os principais objetivos do programa sejam alcançados, de forma cada vez mais sustentável em termos ambientais, econômicos e sociais.

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