Imprensa

13.11.2020

Internações por covid em SP têm sinais de alta, após período de estabilidade

Valor Econômico – 13/11/2020
As internações de pacientes contaminados pelo coronavírus nas UTIs dos hospitais do Estado e na Grande São Paulo têm registrado estabilidade nas últimas semanas, mas há sinais de uma tendência de alta, de acordo com dados da Fundação Seade e projeções feitas pelo Observatório da Covid-19. Tomando apenas o município de São Paulo, dados da prefeitura indicam queda na taxa de internação municipais das UTIs.
Ontem, o secretário-executivo do Centro de Contingência do Combate ao Coronavírus no Estado de São Paulo, João Gabbardo, disse que a pandemia não está piorando no Estado, mas que, se isso ocorrer, restrições voltarão a ser impostas. “Vamos continuar seguindo o Plano São Paulo, que está organizado para estabelecer restrições conforme os indicadores apontarem. Caso haja necessidade, as recomendações de aumento das restrições e distanciamento social vão ser estabelecidas de acordo com o que está previsto no plano.”
O assunto voltou a ganhar destaque após a informação de que alguns hospitais particulares da capital, como o Sírio-Libanês, relataram aumento nas internações por covid-19. De acordo com o hospital, nos últimos dois meses, essas internações oscilaram entre 80 e 110 pacientes. Esta semana chegou a 120, mesmo número de abril.
Em nota, o SindHosp, que reúne o setor no Estado, afirmou que o aumento nas internações em alguns hospitais privados ainda não é conclusivo. “Não há dados suficientes para afirmar que o crescimento é generalizado na capital ou no Estado.” A alta é localizada em algumas instituições de referência e não há mudança de tendência, diz a entidade. Segundo a Secretaria de Saúde, nas últimas cinco semanas o número de internações na rede privada do Estado está estável entre 220 e 240 pacientes.
Segundo a Seade, a taxa de internações por covid-19 em UTIs na Grande São Paulo estava em 45,2% ontem, ante 41,2% no fim de outubro. No início do mês passado era de 42,2%. No Estado, a taxa subiu de 39,5% para 41,4% no período, e no início de outubro estava em 43,3%.
Na capital houve queda. Segundo a prefeitura, a taxa nas UTIs caiu de 37% para 32% entre o fim de outubro e o dia 11 de novembro. Edson Aparecido, secretário de Saúde do município, disse ontem que no pico da pandemia, em junho, a cidade tinha 1.745 leitos de UTI para covid-19 na rede privada. No dia 10 de novembro, caíram para 976 e a ocupação era de 65%. No pico da pandemia em 10 de junho, a média móvel de sete dias era de 2.698 casos, em 29 de outubro eram 653 casos de coronavírus na cidade, afirmou. O número de mortes caiu pela 24ª semana seguida no município.
De acordo com Roberto Kraenkel, professor da Unesp e pesquisador do Observatório Covid-19 BR, os dados de hospitalização (UTI e enfermaria) na Grande São Paulo mostram que o viés mudou de queda para estabilidade. “A tendência era claramente de diminuição. Houve uma mudança para estabilidade. As projeções indicam uma leve subida, a ser confirmada nas próximas semanas”, afirma, lembrando que há atraso no sistema de notificações, então essa fotografia já pode ter mudado.
A estabilização é preocupante, diz Kraenkel, porque por aqui nunca se chegou a uma situação de pouquíssimos casos fatais, como ocorreu em países europeu. “Pode ser um pequeno soluço? Pode. Mas não temos como saber.”
Outro dado que aponta para um possível recrudescimento da contaminação por coronavírus em São Paulo são os casos suspeitos, número monitorado pela plataforma Info Tracker, parceria de pesquisadores da USP de São Carlos com a Unesp. Esses casos aumentaram 50% no Estado em novembro na comparação com agosto, segundo o coordenador Wallace Casaca.
É difícil saber por que houve um aumento dessa magnitude, diz o pesquisador, mas ele defende que a evolução dos casos suspeitos deveria ser levada em consideração no Plano São Paulo, que se baseia em casos confirmados, além das mortes e taxa de internação. “Há um problema de atraso na atualização dos boletins epidemiológicos das prefeituras e por isso pode haver um represamento dos dados. Seja como for, esse é um dado que deveria ser acrescentado na análise da evolução da pandemia no Estado e a resposta à doença.”