Imprensa

15.06.2020

Cidade de São Paulo pode ter atingido ápice de mortes por Covid-19, mostra indicador para sete dias

Folha de S. Paulo – 10/06/2020
O número de óbitos decorrentes do novo coronavírus registrados na capital paulista teve nos últimos sete dias indicam o menor crescimento da epidemia em cinco semanas, mostram dados aferidos e depurados pela Fundação Seade . Apesar de ter ultrapassado a marca de 5.000 mortes , a capital parece estar em desaceleração do número de mortes.
O registro de novas mortes continua aumentando, mas com velocidade menor do que o registrado no fim de maio. Para infectologistas, os números mostram uma estabilização de óbitos na capital, o que significa que o pico da pandemia tenha sido atingido ?o que não elimina, porém, a possibilidade de que um novo pico sobrevenha.
Os dados mostram que entre os dias 3 e 9 de junho foram registradas 509 mortes, segundo a média móvel de sete dias.
O indicador é usada para reduzir efeitos como o que ocorre aos finais de semana, por exemplo, em que as notificações caem. De acordo com este dado, o pico de óbitos teria ocorrido no dia 29 de maio, com 109 casos. Nesta terça (9), eram 90 casos, uma queda de 17%.
Desde 29 de maio, a média móvel de sete dias recua. É a primeira vez que a cidade registra uma sequência de dez dias com essa taxa em queda.
No início de maio, a cidade registrou queda da taxa por sete dias, mas depois houve retomada. Na época, o pico tinha ocorrido em 29 de abril, com 94,4 casos, e teve desaceleração até 7 de maio, quando recomeçou o crescimento da taxa.
Segundo especialistas, a sequência de dez dias em queda permite dizer que a capital chegou ao “platô” ?o ápice de mortes, mas sem a queda abrupta imediata que caracteriza o pico.
Nesta terça, o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, destacou o crescimento de baixa velocidade na cidade e afirmou que o sistema de saúde da capital já não corre mais o risco de colapsar pela pandemia de coronavírus.
A desaceleração do crescimento de casos e mortes pela doença é a justificativa do governo estadual e da prefeitura para a reabertura do comércio na cidade. Nesta semana, São Paulo autorizou o funcionamento do comércio de rua e shoppings, depois de também ter autorizado a retomada de concessionárias de veículos e escritórios.
O infectologista Celso Granato, diretor clínico do Fleury, diz que o dado mostra estabilização das mortes, mas destaca que o relaxamento do isolamento social pode reverter a tendência registrada nos últimos dias.
‘Todos os dados que temos para medir o avanço e disseminação da doença mostram um cenário de 2 a 4 semanas atrás. Estamos sempre medindo a situação com certo retardo e não há outra forma. Por isso, a retomada das atividades comerciais não pode significar que as pessoas podem voltar às suas vidas de antes’, diz.
Para Granato, o indicativo de estabilização dá segurança para a flexibilização faseada e gradual dos setores da economia, mas não é garantia de que a cidade não possa ter novo aumento. ‘Com a retomada, os cuidados têm que ser redobrados para evitar um novo repique’.
O infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas, também avalia que a estabilização de mortes e novos casos e a redução da ocupação dos leitos de UTI permitem iniciar o plano de reabertura, no entanto, destaca que será necessário revisar constantemente a situação.
‘Os dados de hoje mostram a situação de duas semanas atrás, só vamos saber o impacto da reabertura em 15 dias. O governo precisa estar atento a essas informações para retroceder na flexibilização se houver aumento nessas taxas’.