Imprensa

15.08.2019

Região do ABC tem 91 nascimentos por dia

Diário do Grande ABC – 15/08/2019
O Grande ABC ganhou pelo menos 91 novos moradores por dia no ano passado. O número refere-se ao total de registros de nascimentos computados nas sete cidades pela Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo). O cenário atual representa queda de 10,15% em relação ao de uma década atrás. A quantidade de certidões emitidas pelos cartórios passou de 36.867 para 33.471 no período. Especialistas ouvidos pelo Diário observam que a redução da taxa de natalidade é reflexo tanto do cenário econômico de crise observado no País quanto das mudanças sociais, com a mulher optando pela gravidez tardia ou por não ter filhos.
Com exceção de São Caetano e Rio Grande da Serra, onde houve alta de 27,57% e 31,77%, respectivamente, nos registros de nascimentos nos últimos dez anos, as demais cidades observaram queda nos números (confira a tabela abaixo). A maior redução foi em Diadema (19,61%), seguida por Mauá (19,12%), São Bernardo (10,85%), Santo André (3,7%) e Ribeirão Pires (3%).
Professor de sociologia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Fernando Luiz, pontua que atualmente muitas mulheres preferem esperar mais pela gravidez por não ser o único projeto de vida. É uma questão comportamental da própria autonomia da mulher. Elas preferem estudar, buscar posição melhor na carreira, para depois pensar na gravidez. Além disso, elas buscam seu empoderamento, já que a gravidez é uma opção e não uma obrigação, comenta.
Outro ponto que interfere nos dados é a situação das políticas públicas relacionadas a educação, saúde, segurança e economia, observa Luiz. Creche, convênio, alimentação e lazer são itens importantes para pontuar quando se pensa em ter filho. O investimento é alto nestes aspectos estruturais quando não há a opção de usar serviços públicos, finaliza.
Estudante de biomedicina, a moradora de Santo André Paula Andrade, 39 anos, deu à luz a segunda filha, a pequena Isadora, há apenas 12 dias. Segundo ela, assim como a primeira gravidez, não foi um ato planejado. Foi no susto mesmo. Estava decidida a não ter outro filho, até porque tive dificuldades na primeira gestação. E hoje temos uma rotina em que pai e mãe trabalham fora, as crianças precisam ficar na creche. Questões como educação, violência e condições financeiras são tidas por Paula Andrade como cruciais para que sua escolha de manter a família com dois filhos seja diferente daquela observada pela mãe, que teve três crianças, e pela avó, que gerou 12 vidas.
A modernização da sociedade é o motor da queda da fecundidade, ressalta o professor de planejamento territorial da UFABC (Universidade Federal do ABC) Leonardo Freire. ?Essa modernização acaba atingindo todas as classes sociais, apesar de todo cenário de políticas públicas. A mulher está assumindo um papel de protagonista e deixa de ser só a dona de casa. Com isso, estende o prazo para a gravidez.
A gerente administrativa Paula Ramos, 44, comenta que engravidou do seu primeiro filho aos 24 anos, algo que gerou desgaste mental e financeiro. Não pretendo ter mais de um filho. Eles são incríveis, mas os gastos são absurdos e necessários, como convênio médico, escola, transporte. Quando colocamos na ponta do lápis, desistimos, finaliza.
Na contramão, população idosa está em alta no Grande ABC
Um a cada três moradores do Grande ABC terá 60 anos ou mais em 2050. Conforme a projeção populacional da Fundação Seade, o número de idosos entre as sete cidades passará dos atuais 365,8 mil habitantes para 820,8 mil indivíduos, salto de 124,34% no período. Os dados, que seguem tendência mundial, tendo em vista o aumento da expectativa de vida e a queda da taxa de fecundidade, devem ser encarados como instrumentos para o planejamento e implantação de políticas públicas.
No geral, a população total da região sofrerá variação pequena (1,64%), subindo de 2,65 milhões de pessoas para 2,69 milhões de munícipes. Com exceção dos idosos, cuja proporção de indivíduos aumentará dos atuais 13,79% para 30,44%, todos os demais grupos etários sofrerão queda.
A queda da taxa de fecundidade é vista com certo alerta pelo professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rogério Baptistini Mendes. Temos população que envelhece rapidamente e uma força de trabalho que talvez não se renove na proporção necessária para substituí-la, fala.
Hoje, 11,6% dos brasileiros têm 60 anos ou mais e 12,5% dos paulistas estão nesta faixa etária. Na região, 12,9% da população total é idosa.