Imprensa

09.03.2023

Por que as mulheres em SP estão se casando cada vez mais tarde

Site G1 – 08/03/2023

As mulheres no Estado de São Paulo que optam por se casar estão oficializando essa união cada vez mais tarde na vida. Os dados mais recentes, levantados pela Fundação Seade com base no Registro Civil, mostram que, entre as mulheres paulistas que se casaram em 2021, a idade média foi de 32,9 anos.

Mas a análise histórica revela que esse aumento se acentuou mais recentemente. Entre 1970 e 1995, a idade média da mulher paulista ao casar aumentou de 23,2 para 24,7 anos, uma alta de 6%.

Já nos 25 anos seguintes, entre 1995 e 2020, o salto foi de 32%, um ritmo seis vezes maior, chegando a 32,7 anos. Na comparação do período de meio século, o aumento foi de 42%. E a tendência de alta ainda continua. Desde 2015, o aumento anual tem sido de entre 0,6 e 1,3 ano (veja a evolução no gráfico abaixo):

Com isso, a situação registrada no início do século, quando 67% das mulheres que se casaram tinham até 29 anos, já se inverteu. Em 2021, 52% das paulistas que oficializaram a união no registro civil tinham 30 anos ou mais.

As mulheres de 20 a 29 anos eram 61% das que se casaram em 2003, mas apenas 43% em 2021. Entre as mulheres de 40 a 49 anos, a proporção mais que dobrou no período, de 6% para 14%.

Use as setas abaixo para comparar a mudança na idade das mulheres que decidem se casar:

Fenômeno tem várias causas, dizem especialistas

Segundo Rosa Maria de Freitas, demógrafa da Fundação Seade, o fenômeno é produto de uma combinação de fatores:

O fator educação: “O que a gente percebe é que as mulheres estão ficando mais tempo nos bancos escolares, elas têm uma dedicação maior aos estudos”, explica a especialista em nupcialidade do Seade. Nesse quesito, as mulheres de São Paulo já superam os homens em todas as faixas etárias, com exceção dos idosos a partir de 65 anos.

O fator trabalho: Freitas explica que a inserção no mercado de trabalho também fez adiar os planos de uma união civil oficializada. “Não que a família não seja importante, mas ela [a mulher] vem priorizando outros fatores na vida dela junto com a família. Muitas vezes ela tem uma co-habitação e ela oficializa essa união mais tarde. Mas a prioridade hoje da mulher é o mercado de trabalho, é a inserção, é a participação social e econômica na vida do país e dela.”

O fator legal: De acordo com a especialista da Fundação Seade, a Constituição de 1988 também teve um impacto na quantidade de casamentos oficializados no Registro Civil. Então, muitas pessoas passaram a não se preocupar em validar a união quando nascem os filhos, que é o que ocorria antes. “Há algum tempo atrás o casamento era o início de uma família”, explica ela. “Com o advento da pílula anticoncepcional, com a maior liberação feminina, o casamento ficou mais uma realização pessoal e satisfação à família, talvez, do que uma questão de início de família.”

O fator social: A antropóloga Glaucia Marcondes, professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó (Nepo/Unicamp), explica que a socialização das meninas e mulheres nas gerações mais recentes também mudou.

“As gerações que nos antecederam, nossas avós, bisavós até, as mães nem tanto, eram gerações em que a maternidade, a formação de família era o principal projeto de vida. Socialmente era o que mais se esperava das mulheres. E muitas das gerações de mulheres foram socializadas e trazidas para esse projeto da maternidade e do casamento como centralidade da sua própria identidade.” (Glaucia Marcondes, pesquisadora do Nepo/Unicamp)

“As gerações que nos antecederam, nossas avós, bisavós até, as mães nem tanto, eram gerações em que a maternidade, a formação de família era o principal projeto de vida. Socialmente era o que mais se esperava das mulheres. E muitas das gerações de mulheres foram socializadas e trazidas para esse projeto da maternidade e do casamento como centralidade da sua própria identidade.” (Glaucia Marcondes, pesquisadora do Nepo/Unicamp)