Imprensa

22.07.2020

Taxa de ocupação de hospitais privados e municipais na cidade de SP volta a subir, aponta pesquisador da USP

Site G1 – 22/07/2020
 
Após queda iniciada no meio de junho, a taxa de ocupação dos leitos privados e municipais voltou a subir na cidade de São Paulo, segundo análise feita pelo pesquisador Marcio Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP.
A pesquisa foi feita com hospitais privados selecionados na cidade, nos quais o pesquisador teve acesso aos dados de ocupação, e também com dados públicos de hospitais municipais, além dos hospitais de campanha geridos pela administração municipal (veja a curva de ocupação em cada uma das categorias nos gráficos abaixo).
A análise feita pelo professor Márcio Bittencourt mostra que, no município de São Paulo, houve uma inversão da tendência de queda na ocupação que estava em curso a partir da segunda quinzena de junho. Sua análise leva em conta tanto UTIs quanto enfermarias.
?A inversão de tendência é discreta e não preocupa em termos de magnitude, a gente tem capacidade de absorver, mas o problema é um sinal e existe um risco de continuar subindo. É mais um aviso precoce de que algumas coisas estão mudando. A tendência de queda não está mais lá, a gente pode voltar a ver uma queda nova, mas também podemos ter uma segunda onda, que não sabemos se seria maior, igual ou menor que a primeira?, explica Bittencourt.
?A inversão de tendência é discreta e não preocupa em termos de magnitude, a gente tem capacidade de absorver, mas o problema é um sinal e existe um risco de continuar subindo. É mais um aviso precoce de que algumas coisas estão mudando. A tendência de queda não está mais lá, a gente pode voltar a ver uma queda nova, mas também podemos ter uma segunda onda, que não sabemos se seria maior, igual ou menor que a primeira?, explica Bittencourt.
Nos últimos dias, o governo tem enfatizado a alta de casos e mortes no interior do estado.
Apesar da alta na taxa de ocupação de leitos municipais e privados, as novas internações por Covid-19 estão estáveis na cidade de São Paulo. O professor alerta, no entanto, que a estabilidade em um patamar alto pode estar motivando a alta na taxa de ocupação, já que os pacientes internados com Covid-19 podem levar muitos dias para terem alta.
Segundo dados da Fundação Seade do governo estadual, após terem apresentado queda, as novas internações diárias por suspeita ou confirmação de Covid-19 estão agora estáveis na cidade de São Paulo. Diferente da prefeitura, as informações do governo levam em consideração toda a rede de saúde na cidade: privada e pública (tanto estadual quanto municipal).
Para Bittencourt, há pelo menos três fatores que podem estar por trás da inversão de tendência na taxa de ocupação da capital:
?O mais provável é que seja uma combinação de cada hipótese, pode até ter uma que pesa mais ou menos. O mais preocupante aí é a inversão da tendência, a queda durou umas 2 ou 3 semanas e agora a inversão, essa alta, tem mais ou menos uns 10 dias?, explica.
?O mais provável é que seja uma combinação de cada hipótese, pode até ter uma que pesa mais ou menos. O mais preocupante aí é a inversão da tendência, a queda durou umas 2 ou 3 semanas e agora a inversão, essa alta, tem mais ou menos uns 10 dias?, explica.
Não é possível verificar, com base nos dados que ele analisa, de onde são os pacientes que estão provocando o aumento da taxa de ocupação. Por isso, não se pode afirmar se a transferência de pacientes do interior de São Paulo, onde a doença avança mais rápido, está afetando os indicadores.
No entanto, Bittencourt acredita que, como as transferências de Campinas e Piracicaba, duas das cidades mais afetadas, são direcionadas majoritariamente para o hospital estadual de campanha do Ibirapuera, os pacientes do interior não estão afetando tanto os dados que ele analisa, de hospitais municipais.
Ele lembra que os possíveis efeitos da reabertura econômica nos indicadores de Covid-19 costumam aparecer de 6 a 10 semanas após a retomada e que, portanto, há ?uma possibilidade de esse aumento na ocupação ser o começo desse reflexo.?
Novas internações
Nesta segunda-feira (20), a média móvel de novas internações na capital foi de 658, uma variação de apenas 2,3% em relação ao valor de 674 registrado há 14 dias, o que indica a estabilização.
A média móvel avalia os registros dos últimos 7 dias e é usado para analisar a tendência da epidemia corrigindo a diferença de notificação entre os dias da semana. Variações de até 15% na média móvel em 14 dias são consideradas estabilidade pelos especialistas.
A capital atingiu os valores mais altos de novas internações entre o fim de maio e o início de junho, quando a média móvel diária ficou acima de 800 por vários dias seguidos. Depois disso, foi registrada uma queda no final de junho, e agora os valores se estabilizaram novamente acima de 650. Veja o gráfico abaixo:
As novas internações diárias são importantes para medir a situação atual da pandemia em determinada região, já que o aumento do contágio reflete diretamente em mais internações. No entanto, o indicador sozinho não é capaz de medir a pressão no sistema de saúde, já que os pacientes de Covid-19 costumam ficar internados por vários dias até receberem alta.
A informação sobre o número total de pacientes internados na cidade de São Paulo em toda a rede de saúde não é divulgada sistematicamente pelo governo estadual, que publica apenas a informação referente ao estado e à Grande São Paulo nos boletins diários.
Bittencourt acredita que a estabilidade no número de novas internações, verificada em todos os tipos de leito, pode estar pressionando a taxa de ocupação de leitos privados e municipais, que voltou a subir, segundo sua análise.
?Esse número de novas internações está estável, mas houve uma estabilidade em um patamar alto. O fato é que quantidade de internações novas continua muito elevada. Se for um paciente que demora, pode estar entrando paciente leve ou grave, mas há um acumulo progressivo depois, com essa estabilidade nos novos internados, absorvendo uma demanda maior por conta dessa entrada fixa e estável?, explica o médico.
Segundo dados da prefeitura, 1.542 pacientes estavam internados nesta segunda (20) em hospitais municipais e nos leitos particulares contratados pela gestão municipal. Nos mesmos critérios, a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 56%, segundo a prefeitura. Já pelos dados estaduais, que consideram toda a rede de saúde particular e pública, a taxa de ocupação de UTI na cidade é de 66,4% e de enfermaria 59,6%.
Mortes na capital e recorde no estado
Na segunda-feira (20), o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus do governo do estado, João Gabbardo, afirmou que o número de mortes continua estável na cidade de São Paulo. Segundo ele, o aumento de 24% no interior foi o responsável por fazer com que o estado batesse o recorde de novas mortes por coronavírus na última semana.
“Na Região Metropolitana o aumento do número de óbitos foi de 7%, na capital ainda menor, em torno de 2,6%. Houve um aumento de óbitos no interior bastante considerável, na ordem de 24%. No total, os números mantém o estado em uma estabilidade, dentro da nossa previsão. […] Até 15% consideramos estabilidade”, afirmou.
“Na Região Metropolitana o aumento do número de óbitos foi de 7%, na capital ainda menor, em torno de 2,6%. Houve um aumento de óbitos no interior bastante considerável, na ordem de 24%. No total, os números mantém o estado em uma estabilidade, dentro da nossa previsão. […] Até 15% consideramos estabilidade”, afirmou.
Após três semanas seguidas com leves quedas, o estado de São Paulo registrou o maior número de mortes por Covid-19 em uma semana desde o início da pandemia, com 1.945 novos óbitos entre os dias 12 e 18 de julho.
Na semana anterior, do dia 5 de julho ao dia 11, foram registradas 1.706 mortes. Na do dia 28 de junho ao dia 4 de julho, 1.733, e na do dia 21 de junho a 27 de junho, 1.760.
Nesta terça-feira (21), o estado ultrapassou a marca de 20 mil mortes pela Covid-19. Na capital, foram registrados 8.799 óbitos desde o início da pandemia.