Imprensa

26.06.2020

SP tem taxas de casos e mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes maiores que as da Espanha quando iniciou lockdown

Site G1 – 26/05/2020
 

A taxa de casos e de mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes é maior em São Paulo atualmente do que a registrada na Espanha quando o país decretou medidas de lockdown, expressão em inglês que, na tradução literal, significa confinamento ou fechamento total.

Embora não tenha uma definição única, o lockdown é, na prática, a medida mais radical imposta por governos para que haja distanciamento social e controle dos casos de coronavírus. É usado quando há colapso do sistema de saúde e descontrole da epidemia.

Apesar da taxa similar, o número de novos óbitos registrados por dia na Espanha era maior do que o verificado atualmente no estado de São Paulo.

Na última semana, o estado teve, em média, 184 mortes confirmadas por Covid-19 por dia, com pico de 324 mortes confirmadas em 24h na terça-feira (19). Já a Espanha teve 838 mortes confirmadas em 24 horas no dia em que foi determinado o lockdown no país.

De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (25), São Paulo tem 187 casos confirmados de coronavírus a cada 100 mil habitantes, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, e cerca de 13,9 mortes a cada grupo de 100 mil pessoas.

Já a Espanha tinha 166 casos por 100 mil habitantes e 13,76 mortes por 100 mil habitantes no dia 29 de março, quando decretou a restrição de circulação de pessoas em todo o país.

Veja os dados na tabela:

Índices da Covid-19 a cada 100 mil habitantes

Local Casos Mortes População Casos por 100 mil Mortes por 100 mil Data
SP 83.625 6.220 44.607.654 187,46 13,9 Segunda-feira (25 de maio)
Espanha 78.797 6.528 47.431.256 166,12 13,76 Quando decretou lockdown (29 de março)

O estado de São Paulo já contabiliza 83.625 mil casos confirmados da doença e 6.220 mortes provocadas pelo novo coronavírus. A população do estado é de 44.607.654 habitantes, segundo a secretaria, número similar à da Espanha, que tem 46 milhões de habitantes, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia. Em 29 de março, quando decretou o lockdown, a Espanha contava 78.797 casos confirmados de Covid-19 e 6.528 mortes.

As mortes por dia caíram drasticamente na Espanha após a adoção do lockdown, que já começa a ser relaxado no país. O Ministério da Saúde espanhol divulgou neste domingo (24) que foram registradas 70 novos óbitos causados pelo coronavírus em todo o país. Foi o oitavo dia consecutivo em que o número de mortes pela doença no ficou abaixo de 100 em toda a Espanha.

“Nós teremos uma nova quarentena [em junho]. Mas será uma quarentena inteligente, porque levará em consideração toda a regionalização de São Paulo, do interior, da capital e da região metropolitana, do litoral. A decisão não será homogênea. Até agora ela foi homogênea em todo o estado porque ela precisava ser. Agora, nós temos a condição de fazê-la heterogênea, seguindo as orientações do comitê de saúde”, declarou o governador de SP sobre a renovação da quarentena no estado, a partir de 1 de junho.

Pico pode virar platô sem lockdown

Além das taxas a cada 100 mil habitantes, outros critérios adotados para avaliar a necessidade de lockdown são indicadores como a taxa de ocupação de hospitais e o total de mortes confirmadas a cada dia. Este último índice é importante porque mostra se a epidemia está se propagando de maneira mais ou menos acelerada.

Pesquisadores que acompanham a evolução do novo coronavírus no estado de São Paulo alertam que a curva de mortes causadas pela doença, que chegou a entrar em processo de achatamento, teve forte aceleração nos últimos dias.

Os cientistas admitem a possibilidade de que o vírus não cause um pico de contaminação, mas sim um platô, como os especialistas classificam uma situação de pico contínuo, que demora a cair. Nesse caso, o número de casos e mortes por dia se mantém sempre alto, por várias semanas seguidas, e a capacidade da rede hospitalar se esgota, levando ao colapso do sistema.

A imunologista Ester Sabino, que coordenou o primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus no Brasil, avalia que a situação de São Paulo pode ser diferente daquela verificada em países como a China e a Coreia do Sul, que já tiveram uma primeira onda de casos e mortes por Covid-19.

Ela cita esses países como exemplos de locais que tiveram um pico de casos seguido por uma rápida diminuição, porque tomaram medidas drásticas para conter a propagação do vírus.

“Aqui a gente seguramente vai ter novas ondas, e eu não sei nem se vamos poder chamar de ondas, porque pode ser que esse vírus consiga ficar mais num formato de platô, que nunca chegue a terminar a primeira onda”, avalia Sabino.

Já a Itália e a Espanha são exemplos de países que, segundo a imunologista, ” só conseguiram fazer parar de subir [a curva do Covid-19] com o lockdown”.

Feriado para aumentar isolamento

O índice de isolamento social na cidade de São Paulo subiu entre 1 e 3 pontos percentuais com a antecipação de dois feriados municipais na semana passada. O objetivo da antecipação era conter a propagação do novo coronavírus, aumentando o isolamento social.

Para tentar elevar o índice, a cidade de São Paulo adiantou os feriados municipais de Corpus Christi (11 de junho) e da Consciência Negra (20 de novembro) para a última quarta (20) e quinta (21).

Na sexta-feira (22), foi declarado ponto facultativo na cidade. Já o governo estadual antecipou o feriado de 9 de julho para esta segunda-feira (25).

Isolamento social na cidade de SP em feriado prolongado

Dia da semana Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado Domingo Média
Semana anterior ao feriado: 48% 49% 48% 52% 56% 50,6%
Semana do feriado antecipado: 51% 52% 49% 53% 57% 52,4%
Variação (em pontos percentuais): 3 3 1 1 1 1,8

Apesar das medidas, o índice no feriado prolongado na capital ficou, em média, 1,8 pontos percentuais acima do registrado na semana anterior, em que não houve feriado.

A taxa só superou 55%, valor citado pelo governador João Doria como mínimo para conter a propagação do novo coronavírus, em um domingo. Autoridades de saúde do próprio governo, no entanto, afirmam que o ideal é que a taxa seja de 70%.

Na manhã desta segunda-feira (25), por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo disse avaliar positivamente os resultados obtidos com a antecipação dos feriados.

De acordo com a gestão municipal, o número de veículos nas ruas e o de passageiros nos ônibus “foram reduzidos de maneira significativa na quarta e na quinta-feira.”

Adesão na Grande São Paulo

Quando foi anunciada a antecipação de feriados municipais na capital, o objetivo da prefeitura era que outras cidades da Grande São Paulo também adiantassem seus feriados para alinhar o calendário em toda a região metropolitana.

Segundo o governo estadual, foi feita uma recomendação para que prefeituras da Grande São Paulo antecipassem feriados municipais para os dias 26 e 27 de maio.

No entanto, pelo menos 11 municípios da região não aderiram à antecipação de feriados. Entre as cidades optaram por não antecipar nenhum dos feriados municipais estão Cajamar, Guarulhos, Itapevi, Jandira, Osasco, Carapicuíba, Santana de Parnaíba, Barueri, Pirapora do Bom Jesus e Mairiporã.

Outras cidades tiveram feriado apenas na sexta (22), quando foi ponto facultativo na capital. É o caso dos municípios do Grande ABC, que optaram pela antecipação do feriado de Corpus Christi. Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que fazem parte do consórcio, adotaram esse modelo.