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17.05.2022

Região de Campinas registra queda de 8,5% em natalidade

Correio Popular, de Campinas – 17/05/2022

A Região Administrativa de Campinas registrou queda de 7 mil nascimentos em 2021, a segunda maior retração do Estado de São Paulo. Os 90 municípios da RA tiveram uma queda na natalidade de 8,5% no ano passado em comparação a 2019, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). A taxa é menor apenas do que a verificada na Região Metropolitana de São Paulo, que registrou redução de 12,5%, ou seja, 36 mil crianças a menos.

De acordo com o levantamento, o número de nascimentos vivos diminui em todas as regiões do Estado. “Essa diminuição pode ser decorrência da combinação da queda da fecundidade e da decisão do casal em adiar ou evitar a gravidez frente à pandemia”, aponta o Seade. Em 2021, pouco mais de 522 mil mulheres se tornaram mães no Estado, segundo o estudo feito com base nas estatísticas do Registro Civil.

Na RA de Campinas, nasceram 78.609 bebês no ano passado: a maioria é do sexo masculino, 40.098, e 38.511 do sexo feminino. Campinas é a cidade com o maior número de nascimentos, 12.830, o equivalente a 16,33% da Região Administrativa. No município, nasceram 6.547 meninos e 6.283 meninas.

A técnica de enfermagem Franciele Santos acalentava o sonho de ser mãe, mas vinha adiando-o por causa de um tratamento de saúde. “Eu tinha que esperar o término desse tratamento para poder engravidar”, explica. A espera terminou este ano, com o procedimento sendo trocado pelo pré-natal. Feliz, Franciele exibe a barriga de cinco meses de gravidez, aguardando o nascimento da criança para setembro. A chegada do mês da Primavera marcará o desabrochar de uma nova mãe.

Já a cidade com a menor natalidade foi a pequena Santa Cruz da Conceição, com 27 nascimentos em 2021, média de 2,25 por mês. Ou seja, o município na região Central do Estado registrou menos de um nascimento por semana. Para ser exato, foi um a cada 13 dias. A cidade tem 4.372 habitantes, aponta o Seade.

Perfil das mães

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam diferenças no perfil das mães em Campinas em relação ao nacional. No município, o maior número de mães que tiveram filhos em 2019 estava na faixa etária de 30 a 34 anos – 25,08% do total. Em segundo lugar, aparecem as mulheres de 25 a 29 anos, 24,67%. Ou seja, os dois grupos responderam por metade dos nascimentos (49,75%). Em terceiro lugar, aparecem as mães de 20 a 24 anos (21,05%), seguido pelas de 35 a 39 anos (15,83%).

De acordo com o professor do IFCH, essa é a realidade verificada também nas capitais brasileiras e nas cidades mais ricas. Já o perfil geral nacional aponta maior número de mães entre 20 e 24 anos (24,33%), seguido pelas de 25 a 29 anos (24,53%). As mulheres de 30 a 34 anos aparecem na terceira posição (20,83%), apontam os dados do IBGE.

No Estado

A Fundação destaca que 2021 foi o quarto ano seguido de declínio da natalidade no Estado de São Paulo. Foram quase 30 mil nascimentos a menos do que 2020, com o total chegando a 89 mil crianças a menos desde 2017.

A queda ocorreu em todas as regiões do Estado de São Paulo em 2021. De acordo com o levantamento do Seade, os municípios da região Oeste e de Franca tiveram redução entre 8% e 11%. Já as menores quedas foram registradas nas regiões Central e de Sorocaba, onde a redução foi inferior a 6%.

O presidente da Maternidade de Campinas, ginecologista Marcos Miele da Ponte, atribuiu a queda da natalidade à pandemia de covid-19 e à crise econômica do País. O hospital é responsável pela metade dos partos na cidade, sendo referência para a Região Metropolitana. Segundo o médico, a queda se acentuou a partir do início deste século, mas foi mais expressiva em dois momentos de crise sanitária, 2017, em função do zika vírus, e mais recentemente com a pandemia de covid-19.

“Dificilmente, voltaremos ao patamar de nascimentos de 2019. Primeiro, teve o medo gerado pela pandemia, agora temos a questão econômica”, afirma Ponte. Para ele, o medo de desemprego e a queda no poder aquisitivo da população devem fazer com que as mulheres continuem a adiar a maternidade.

O Seade aponta que o efeito da pandemia teve um reflexo diferente nos nascimentos em relação aos casamentos e óbitos. De acordo com o órgão, o efeito da covid-19 foi bastante visível em 2020 e 2021 na distribuição mensal de casamentos e óbitos. Porém, “as estatísticas mensais de nascidos vivos indicam que a sazonalidade se manteve ao longo desses anos, concomitante à redução contínua no número mensal de eventos”, diz o relatório.

Na evolução mensal, aponta a Fundação, o número de nascimentos no primeiro semestre, em especial entre março e maio, é ligeiramente superior ao do segundo semestre de 2019 a 2021. No ano passado, a taxa de fecundidade geral do Estado foi de 43,5 nascidos vivos por mil mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos), variando de 14 a 77 por mil entre os municípios paulistas.

De acordo com a Fundação Seade, a fecundidade na região Sul do Estado é mais elevada e ao Norte é mais baixa. Entre os municípios com mais de 120 nascimentos, Bady Bassitt (77,3 por mil) e Barueri (71,7) apresentaram as maiores taxas. Já as menores foram observadas em Pradópolis (31,1) e Monte Aprazível (30).

Consequências

Para Everton Emanuel Campos de Lima, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pesquisador do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “o fato é que há um consenso de que a queda na natalidade e no número de filhos por família é um caminho sem volta”. Ele diz que há aspectos positivos e negativos nessa mudança da realidade demográfica do País.

Pelo lado positivo, mostra que as mulheres estão tendo ascensão profissional e econômica, o que as faz adiar a maternidade e ter um número menor de filhos.

Em termos globais, pensando no planeta como um tudo, a redução populacional diminuirá o uso dos recursos naturais e os impactos das mudanças climáticas.

O lado negativo da queda da natalidade é a redução da População Econômica Ativa (PEA) no futuro, ou seja, das pessoas a partir de 16 anos em condições de trabalhar. A tradução disso é a diminuição da mão-de-obra disponível no mercado. Outro reflexo é o envelhecimento da população, o que pressionará o sistema previdenciário do País. Haverá um número menor de pessoas pagando a Previdência e uma fatia maior de aposentados recebendo, o que está associado também à maior longevidade do brasileiro.

Média de filhos

O resultado é o desequilíbrio da balança do sistema, o que exigirá a reforma previdenciária, um tema que o brasileiro ouve muito falar,

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da População, essa nova realidade se fará presente em um horizonte próximo. “Na realidade, em termos demográficos, há uma visão de que a redução de nascimentos tem um impacto negativo para a população como um todo”, afirma. Para Lima, o Brasil passa pelo processo de redução do número de filhos e envelhecimento da população de forma muito mais rápida do que os países da Europa passaram.

Ele avalia como uma média ideal dois filhos por família, ou seja, um equilíbrio entre o número de crianças e o casal. Porém, estudo do Seade mostra que o número médio de filhos no Estado de São Paulo, entre 2000 e 2020, passou de 2,08 filhos por mulher para 1,56, redução de 25%. A pesquisa foi feita com base nas informações dos Cartórios de Registro Civil.

A estimativa ano a ano mostra que esse decréscimo não foi contínuo ao longo do período. Após alcançar o patamar de 1,70 filho em 2007, manteve-se relativamente estável por uma década. A partir de 2019, iniciou-se nova queda, quando o número de filhos por mulher chegou a 1,65.

O pesquisador do Nepo acrescenta que o envelhecimento da população exigirá também mudanças no sistema de saúde, com a oferta de serviços voltados para pessoas de mais idade, como de geriatria. Além disso, será preciso atender à necessidade de mão de obra, de forma que as pessoas continuarão a trabalhar mesmo depois de aposentadas. Empresas europeias, explica, já se adaptaram a essa realidade.