Imprensa

21.07.2021

População em idade escolar cai 21% no Grande ABC

Diário do grande ABC – 20/07/2021
A população do Grande ABC em idade escolar, ou seja, crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos, caiu 21% em período de 21 anos. Os números são projeções da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e apontam que em 2000, dos 2,3 milhões de habitantes da região, 584 mil, ou 24,9%, estavam nesta faixa etária. Pouco mais de duas décadas depois, a proporção caiu para 17,1%, ou seja, 461 mil pessoas em idade escolar entre os 2,6 milhões de habitantes – a projeção da Fundação Seade é inferior à do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que calcula para o Grande ABC 2,8 milhões de moradores.
O cenário em âmbito estadual é semelhante ao da região. De acordo com a projeção elaborada pelo Seade, a população paulista em idade escolar para 2021 soma 7,86 milhões de pessoas, representando 17,5% do total de moradores do Estado de São Paulo. Houve redução em 1,47 milhão desde 2000, quando correspondia a 9,33 milhões e concentrava 25,3% da população. Segundo a fundação, a queda reflete a tendência do número de nascimentos, que, depois da trajetória crescente até atingir o maior valor histórico em 1982 (771 mil), oscilou até 1998 e diminuiu quase continuamente a partir de então (foram 550 mil bebês nascidos em 2020).
Segundo especialistas, os números mostram uma tendência de envelhecimento da população e o fenômeno traz impactos econômicos e para a própria educação. O coordenador de estudos do Observatório Econômico da Umesp (Universidade Metodista da São Paulo), Sandro Maskio, avalia que essa redução no número de crianças e jovens, considerando o total da população, vai ser sentida com menos jovens chegando ao mercado de trabalho e que isso pode gerar um efeito econômico muito importante.
Maskio afirma que, muito embora o desemprego esteja alto, não é rara a queixa de empresários que já não conseguem mão de obra qualificada para suas empresas, não apenas do ponto de vista de formação, mas por causa de certo desinteresse dos jovens pelo trabalho formal. “Tem ganhado muita força a ideia de que o jovem precisa ser empreendedor, mas as vagas de emprego continuarão existindo” relata. Para o coordenador, será preciso uma mudança de cultura, sob o risco de termos uma velocidade ainda menor do atual ritmo lento de desenvolvimento.
O coordenador acredita que a médio ou curto prazo possam surgir discussões no sentido de alocar recursos que hoje são destinados para a educação – as cidades precisam investir ao menos 25% de suas receitas correntes na área – para outros setores com maior demanda. No entanto, destaca Maskio, é preciso ponderar que, embora tenha havido redução na proporção de pessoas em idade escolar, são poucas as cidades que atendem completamente a demanda de crianças em creches, por exemplo. “A médio e longo prazos será preciso mais investimenos em saúde de média e alta complexidade para atender aos idosos”, finaliza.
Especialista vê chance de avanço na educação
Para o diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), Ismael Rocha, a redução na proporção de pessoas em idade escolar no Grande ABC é uma oportunidade para avanços na educação. Rocha lembra que esse fenômeno de envelhecimento da população já aconteceu há algumas décadas em países da Europa e que a estabilidade no crescimento da população permite planejamentos a longo prazo para um projeto educacional de Estado.
Com especializações na área de educação em países como a Finlândia, o diretor destaca que é preciso trabalhar a educação não mais de uma forma padronizada, mas observando e respeitando as diferentes capacidades de absorção de conteúdo de cada aluno. “O conceito de aprendizagem significativa, quando o estudante consegue dar sentido para o que ele está aprendendo, apresenta índices maiores de retenção dessa aprendizagem”, explica.
A queda de 21% na proporção dos alunos em idade escolar, na avaliação do especialista, deve ser usada para ampliar a capacidade de oferta de recursos como a tecnologia aos estudantes, que foi tão exigida durante a pandemia de Covid-19, mas que ainda não chega à totalidade de crianças e adolescentes que se viram impedidos de frequentar as aulas de maneira presencial.
Rocha ressalta que educação se faz por planejamento e essa nova realidade, de um crescimento menor da população pela queda na taxa de natalidade, traz a oportunidade de planejamento a longo prazo. “Ações imediatistas na educação naufragam”, define.
Com relação a um possível remanejamento dos recursos da área, o coordenador é taxativo ao afirmar que a redução na quantidade de alunos em idade escolar não pode ser usado como artifício para menos investimentos. “As famílias, toda a sociedade, precisam estar atentas para que não se perca essa grande oportunidade de melhoria no ensino público”, finaliza.