Imprensa

09.12.2020

Faixa etária das mães aumenta na região do ABC

Diário do Grande ABC – 9/12/2020
 
Estudo realizado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) aponta que, entre 2000 e 2019, houve mudança no perfil etário das mães, sendo que as mulheres de 30 a 39 anos foram as que mais engravidaram, tanto no Estado quanto no Grande ABC. Entre os sete municípios, a idade média aumentou de 26,4 para 29,4 anos (veja arte ao lado).
O destaque fica para São Caetano, que apresenta a idade média mais elevada (31,9 anos), com índice de 59,1% dos nascidos vivos entre as mulheres de 30 a 39 anos, seguido por mães de 20 a 30 anos, com 30,1%, e apenas 3,7% de bebês frutos de jovens com menos de 20 anos.
O levantamento mostra ainda que a proporção de gravidez em adolescentes reduziu quase que pela metade, e cerca de 50% dos nascimentos concentram-se entre as mulheres de 20 a 30 anos, embora registre redução.
O gráfico de São Bernardo, por sua vez é o que melhor ilustra a mudança de distribuição etária. Se em 2000 a cidade registrou 27,3% de nascidos vivos entre mães de 30 a 39 anos, no ano passado foram 44,4%, sendo a idade média de 29,6. Já no caso de mães com menos de 20 anos, a diminuição foi de 51%. Em 2000, a cidade registrou 16,4% de nascidos vivos entre as mais jovens, e em 2019 foram somente 7,9%.
Um dos exemplos de mulher que escolheu a maternidade depois dos 30 anos é a terapeuta e multiartista Lilia Reis, 38, que está grávida de 21 semanas de seu primeiro filho, Akanni.
Sem certeza de que queria torna-se mãe, e também em dúvida se teria de fato encontrado o pai ideal ao filho que teria, ela relata que o tempo “foi passando”. “Conheci meu marido há 15 anos, na faculdade. Nos reencontramos e decidimos tentar um relacionamento, mas logo soubemos que teríamos um filho”, contou, explicando que o nome do bebê significa “nosso encontro traz poder”.
Lilia acredita que estar grávida com 38 anos lhe proporciona maturidade que, talvez, se fosse mais nova não teria. “Hoje tenho uma consciência que há alguns anos não tinha. Acho que está sendo o momento ideal (para ter filho)”, afirmou.
ESTADO
O número de nascidos no Estado diminuiu de 699,4 mil para 580,2 mil, também registrando mudança no perfil etário das mulheres que tiveram filho. A proporção de mães com menos de 20 anos caiu pela metade (de 19,5% para 10,4%), enquanto para aquelas de 20 a 29 anos a redução foi menor. Por outro lado, aumentou a parcela das mães com mais de 30 anos. No caso daquelas entre 30 e 39 anos, passou de 26% para 39,1%. Isso é consequência de mudanças na estrutura etária populacional e no comportamento reprodutivo.
Conforme a demógrafa do Seade Lúcia Yazaki, o aumento etário é consequência da mudança na distribuição dos nascidos vivos, segundo a idade da mãe. “Lembrando que corresponde à idade das mulheres que tiveram filho nos anos 2000, 2010 ou 2019, independentemente da ordem do filho, pode ser o primeiro, terceiro ou mais”, destacou.
Conquistas femininas ‘adiam’ a escolha pela maternidade

Diferentemente do que se via há alguns anos, a maternidade tem sido escolha cada vez mais tardia na vida das mulheres. A mudança no cenário, apontada pelo Seade, mostra que mães com mais de 30 anos passaram a ser maioria. Para a professora do programa de mestrado profissional em comunicação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Rebeca Nunes Guedes, isso é resultado de conquistas históricas, sociais e culturais.
A professora explicou que a vida das mulheres deixou de se limitar à esfera doméstica, já que necessitam conciliar a maternidade com a formação acadêmica. “As mulheres com acesso à educação formal e ao trabalho remunerado, especialmente em contextos de crise, buscam momentos com maior estabilidade financeira para exercer a maternidade”, salientou. E lembrou que essa estabilidade não faz parte da realidade de todas as mulheres. “Além disso, precisamos lembrar que o número de mulheres que chefiam sozinhas suas famílias cresce a cada ano, e essas são as famílias mais pobres em nossa sociedade”, disse.
A docente considerou ainda que a necessidade de conciliação do trabalho relacionado à maternidade consiste em necessidade concreta das mulheres e um desafio que as vulnerabiliza. “Essa vulnerabilidade é ainda mais contraditória em nossa cultura androcêntrica, para a qual os trabalhos relacionados aos cuidados ainda são compreendidos como função exclusivamente feminina, solo fértil para a sobrecarga das mulheres relacionada à tripla jornada”, finalizou.