Imprensa

30.04.2019

Em São Paulo, 88% de toda a riqueza da cidade vem do segmento de serviços

Folha de S. Paulo – revista SP – 27/04/2019
Na concorrida mostra de Tarsila do Amaral no Masp, estão expostas duas pinturas mais diretamente ligadas à cidade de São Paulo.
Uma delas é a famosa “Operários” (1933), que apresenta a diversidade étnica dos trabalhadores atraídos pelas indústrias. No primeiro plano, aparecem africanos, europeus, árabes, japoneses. Ao fundo, as chaminés das fábricas.
A capital paulista dos dias de hoje se distancia da realidade de “Operários”. De acordo com dados de 2016 do IBGE e da Fundação Seade, as indústrias são responsáveis por apenas 11% da riqueza da cidade.
A outra pintura com esse viés presente na exposição é “São Paulo” (1924). Não há traços que simbolizem as indústrias. O que se impõe nessa tela é uma paisagem urbana de difícil identificação à primeira vista -a pequena placa abaixo do quadro indica que Tarsila tomou como referências o viaduto do Chá e os edifícios no Vale do Anhangabaú.
Números surgem no canto superior esquerdo da pintura, indicando já naquela época a ascensão da tecnologia e da informação.
Com mais de 50 shoppings, mais de 2.000 postos de gasolina, mais de 3.400 farmácias, entre outros muitos segmentos, a São Paulo de 2019 se apoia numa imensa rede de dados que movimenta, sobretudo, o setor de serviços.
Assim, a metrópole do século 21 se aproxima cada vez mais dos sinais deixados por Tarsila na pintura “São Paulo”. No levantamento do IBGE e da Fundação Seade, os serviços superam 88% do PIB (Produto Interno Bruto) da cidade.
Para Alexandre Loloian, economista da Seade, a tendência é que esses movimentos se intensifiquem, ou seja, aumento do peso dos serviços na economia paulistana nos próximos anos em detrimento da representatividade da indústria.
De acordo com Loloian, a área de serviços em São Paulo foi menos afetada do que as demais na crise econômica dos últimos anos. A avaliação é compartilhada por Kelly Carvalho, assessora econômica da Fecomercio-SP. “O setor de serviços foi o último a entrar na crise e o primeiro a começar a se recuperar”, afirma.
Segundo ela, essa área da economia tem condições de se reerguer mais rapidamente em períodos de recessão. O fato de não ser dependente de grandes ofertas de crédito ajuda a explicar essa vantagem.
Realizada pela Fecomercio-SP a partir de dados da Secretaria da Fazenda do Município de São Paulo, a Pesquisa Conjuntural do Setor de Serviços (PCSS) mostra o fortalecimento desse universo como um todo, mas alguns segmentos se destacam.
Um deles é a que engloba atividades jurídicas, econômicas e técnico-administrativas, que incluem, por exemplo, consultorias empresariais e escritórios de direito. Esse conjunto registrou em São Paulo um crescimento de 37% em janeiro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
O mercado de turismo, hospedagem e eventos teve uma alta de 10% no faturamento quando comparados os mesmos períodos. É para esse segmento, aliás, que as filas no vão do Masp poderão contribuir nos próximos meses. Ainda que modestamente, Tarsila também movimenta a economia.