Imprensa

25.05.2018

Crise reduz domésticas e amplia diaristas

Tribuna de Santos – 21/05/2018
A crise mudou o dia a dia de muitas famílias e, para uma parte, não foi possível manter uma empregada doméstica contratada no lar. Porém, trazerdiaristas alguns dias da semana virou alternativa viável, que vem tirando do ócio quem perdeu o emprego formal e, de quebra, ajudando a manter a ordem da casa de quem não temcomoarcar com as despesas exigidas porlei. Um estudo divulgado no mês passado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) apontou que o número de empregadas domésticas caiu 6,7% de 2016 para 2017, na Região Metropolitana de São Paulo. E que a proporção de diaristas já se iguala à de mensalistas com carteira de trabalho assinada. Olevantamento mostratambém que, se 20 anos atrás havia a tendência de formalização das ocupações em geral, movimento que ganhou força em meados dos anos 2000 ? período de crescimento econômico ?, a partir de 2016 o número de diaristas passou a aumentar. Segundo o Sindicato das Empregadase Trabalhadores Doméstico s da GrandeS ão Paulo (Sindoméstica), o motivo foi a aprovação da LeiComplementar 150/2015, que regulamentou uma série de direitos, como explica Nathalie Rosário, advogada da entidade. ?Na época em que saiu a lei, o País estava enfrentando uma crise econômica muito grande. Então, houve realmente uma diminuição significativa, uma demissão em massa, porque não eram formais?, conta. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também mostrou, de 2012 até 2016, redução de 4% dos empregados que trabalham em apenas uma casa e aumento de 12,5% de pessoas em mais de uma residência, no País .
NA REGIÃO
O Ministério do Trabalho diz que o Brasil tem 1,5 milhão de trabalhadores domésticos ativos no cadastro do e-Social. Porém, não é possível saber o total na Baixada Santista porque a legislação da empregada doméstica é específica. Portanto, não faz parte das estatísticas de emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No entanto, as empresas da região que intermedeiam contratações esporádicas apontamque, emSantos, ocorreuo mesmo: com a crise, cresceu a busca de diaristas e caiu a de mens alistas . Walkíria Santalucia Tavares, da Fluir Limpeza Profissional, conta que ?a procura aumentou de 30% a 40% desde o fim de 2015?. Nuno Calado, diretor de expansão da House Maid, explica que, das mais de dez lojas da empresa, a de Santos é a que mais fatura, e a maior parte dos clientes quer serviço uma vez por semana ou a cada 15 dias. Ana Paula de Lima Santa, sócia proprietária da Essencial Serviços, que faz a seleção e o gerenciamento das contratações de empregadas domésticas, também confirma. ?Em 2014, a procura do cliente era maior para mensalistas. Depois da lei, em 2015, houve queda e procura só de diaristas. Eram mais ou menos 70 mensalistasem2014 e 21 agora. Lá atrás, na mesma época, em média, duas diaristas por semana e hoje, cerca de oito?., diz Ana Paula.
PRÓS E CONTRAS
O sindicato da categoria é contra esse movimento, mas explica que não há como freá-lo. Por um lado, quem estava desempregado arranja uma forma de trabalhar ganhando, às vezes, mais do que um salário mínimo e trabalhando menos. No entanto, fica sem seguro-desemprego, férias, 13º salário e sem poder se afastar por questões de saúde. Do outro lado está o consumidor final, que paga menos. ?É fácil de compreender por que isso acontece. É a política do País, praticamente uma situação de subsistência?, resume a advogada Nathalie Rosário.
SALÁRIO
mil reais é o salário mensal de um a em pregada doméstica registrada, contando os R$ 1.108,38 de salário mínimo, m ais FGTS, INSS e seguros, considerando vale-transporte de Santos. Excluindo os descontos, receberá R$ 953,21
44 ANOS
Jovelina trabalha com serviço doméstico há anos. Desde que veio de Pernambuco, ainda menina, cuidava e brincava com outras crianças na casa onde m ais tarde foi registrada como empregada doméstica, onde ficou por anos. Hoje, atua algum as vezes na sem ana na casa de um a pessoa e outras para outra patroa. ?Por um lado é bom e, por outro, é ruim. Olado bom é que, quando eu era registrada, tinha férias, 13 salário, essas coisas. Olado ruim é que a gente ganha menos. Como diarista ganho m ais, dobro o salário?, conta ela, enquanto passava roupas na casa de Michelle Canário Menezes, empresária de 35 anos. Michelle deixou de pagar empregada com jornada de 44 horas sem anais ? não pela crise, m as pela oportunidade. A diferença de investimento ela aplica na educação do filho m ais novo. ?Agente também tem o lado bom e ruim. Quando contrata com carteira, a pessoa falta, apresenta atestado, às vezes não se fideliza. Quem contrata diarista sabe que a pessoa vem. Não preciso esperar ninguém chegar?, conta ela, lembrando que, com o salário base que gastava antigamente, paga agora inglês e natação do filho. Jovelina, que prefere a form a de trabalho atual, explica. ?Dá trabalho mesmo. É difícil o patrão achar o empregado ideal e a empregada achar um a casa bacana também?, acrescenta.