Imprensa

28.03.2022

Alta do PIB de Campinas foi a 2° maior do Estado em 2021

Correio Popular – 25/03/2022

A Região Administrativa (RA) de Campinas teve o segundo maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de São Paulo em 2021. A RA fechou o ano passado com uma alta de 7,6%, consolidando a retomada da atividade econômica a partir do segundo semestre, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). O desempenho foi inferior apenas ao da RA de Sorocaba, que percebeu um crescimento de 9,7% em 2021.

O PIB da RA de Campinas atingiu R$ 152,04 bilhões no último trimestre de 2021, o melhor resultado para o período desde 2013. O valor acumulado no ano passado foi de R$ 555,89 bilhões, colocando a RA de Campinas na vice-liderança na formação do PIB estadual, ou seja, a segunda RA com maior participação no PIB do Estado, correspondendo a 18,7%, atrás apenas da Região Metropolitana de São Paulo, que somou R$ 1,46 trilhão (53,5% do total). Já a RA de Sorocaba ocupou a 4ª posição na formação do PIB, com 4,6% de participação: R$ 135,93 bilhões.

No acumulado dos 12 meses, o PIB do Estado de São Paulo cresceu 5,7%, totalizando R$ 2,82 trilhões. Todas as regiões paulistas obtiveram alta no seus PIBs no ano passado, porém, duas ficaram com um índice abaixo de 2%.

O menor crescimento foi o da Região Administrativa de São José do Rio Preto (1,2%), totalizando R$ 60,42 bilhões no acumulado de 2021. A penúltima colocação no ranking foi ocupado pela RA de Barretos, alta de 1,9% – R$ 22,16 bilhões.

Crescimento por setores

O setor de serviços da RA de Campinas obteve o melhor desempenho, com uma alta de 8%. Ele é composto por segmentos como o de turismo, serviços bancários, restaurantes, hospitais, consultorias, corretagem de imóveis, serviços públicos e outros. O PIB desse setor em 2021 atingiu R$ 283,010 bilhões.

Na segunda colocação aparece o setor industrial, com alta de 6,5%, um total R$ 162, 431 bilhões. O setor de agropecuária foi o único a apresentar queda em 2021 entre os 90 municípios que formam essa RA: -37%. Sua participação na composição do PIB foi pequena, de apenas R$ 7,09 bilhões.

A empresária Renata Adriana Zaguis, sócia de uma agência de turismo em Campinas, confirma a retomada na atividade a partir do segundo semestre de 2021. “As pessoas estão carentes de lazer, relacionamentos, socialização”, afirma. Ela cita como exemplo a dificuldade para conseguir hospedagem para um cliente em Fortaleza (CE) na semana passada.

“Os hotéis estavam lotados, apesar de ser um período de baixa temporada e não ser feriado”, lembrou. De acordo com a empresária, o crescimento está sendo puxado principalmente pelas viagens de lazer. Já a retomada do segmento corporativo está mais lento.

Outro indicador de retomada desse setor vem da ocupação dos hotéis. O Campinas e Região Convention & Visitors Bureau (CRC&VB) aponta que a taxa média de ocupação de quartos da Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi de 46,73% em fevereiro deste ano. O índice é ligeiramente maior do que o de janeiro, quando a taxa foi de 43,95%.

Entretanto, houve uma pequena redução na diária média dos hotéis. Em fevereiro, o valor foi de R$ 228,53, contra R$ 230 no primeiro mês do ano. Para o presidente do CRC&VB, Vanderlei Costa, a expectativa é a de que o segmento continue em recuperação. Porém, a médio e longo prazo, isso dependerá dos reflexos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia para a economia mundial, a manutenção do poder aquisitivo do consumidor e da política de investimentos das empresas para os eventos corporativos.

Ele explica que essas variáveis terão reflexos diretos na taxa de ocupação dos hotéis, salas de eventos e centros de convenções. Costa lembra que isso impacta cerca de 40 outros segmentos, que vão de motoristas de táxi a equipes de montagem e realização dos eventos.

Indústrias

O setor industrial também sente os reflexos da retomada da economia. O diretor titular do Centro das Indústrias de São Paulo – Regional Campinas (Ciesp-Campinas), José Henrique Toledo Corrêa, divulgou esta semana que 47% das empresas associadas constataram aumento no faturamento em fevereiro. Além disso, 87% declararam que operam com capacidade instalada de produção entre 50% e 100%.

As empresas da RMC também demonstram otimismo em relação a 2022. Levantamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) de Campinas revela que 97% delas têm a intenção de manter os postos de trabalho ou contratar novos funcionários este ano. Apenas 3% cogitam reduzir a oferta de empregos.

“Estamos surpresos com o aumento das expectativas positivas no ambiente econômico em relação à manutenção ou geração de emprego. O resultado supera em sete pontos percentuais o registrado em 2021. Na ocasião, 10% dos executivos disseram que pretendiam encolher seus quadro de colaboradores”, comentou o presidente do Ibef Campinas, Valdir Augusto de Assunção.

Base ruim

Para o economista Roberto Brito de Carvalho, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas), a alta do PIB registrada em 2021 é algo a se comemorar, mas, ao mesmo tempo, ser vista com parcimônia. “Em 2022, esse desempenho não deve se repetir”, avalia.

Ele ressalta que o crescimento do ano passado é um alento em comparação a 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, quando a atividade econômica foi fortemente afetada e muitos setores praticamente pararam em função das medidas de confinamento social, principalmente o de serviços.

De acordo com o Seade, o PIB da RA de Campinas registrou crescimento de apenas 1,5% em 2020, quando somou R$ 452,83 bilhões. Mesmo assim, o índice foi 3,75 vezes maior do que o desempenho do Estado de São Paulo, 0,4%. Nesse mesmo ano, segundo o Seade, apenas a RA de Franca cresceu significativamente: 6,3%. O resultado de todas as outras RAs foi tímido, com o PIB da RA de São José dos Campos fechando em queda: -3,8%.

Ômicron, guerra e eleição

Segundo Carvalho, dois fatores afetam o otimismo em relação à economia este ano: o aumento dos casos de covid-19 em virtude da variante ômicron, em janeiro, e a deflagração da guerra entre a Rússia e a Ucrânia no final do mês passado. Para o economista, os reflexos da pandemia parecem ter diminuído, a partir da queda nas internações e mortes provocadas pela doença.

Quanto ao conflito no Leste Europeu, Carvalho avalia que a economia brasileira pode até ser beneficiada pela migração de investimentos de multinacionais que estão saindo ou reduzindo as suas atividades na Rússia. Ele cita como exemplo a alta dos investimentos na Bolsa de Valores brasileira, o que ocasionou a queda da cotação do dólar em decorrência do aumento da entrada da moeda norte-americana no país. Em março, até a última quarta-feira (22), o dólar acumulava uma queda de 6,06%, cotado em torno de R$ 4,80. No ano, a baixa frente ao real atingiu 13,11%.

No entanto, o professor da PUC-Campinas considera as eleições de outubro como o principal fator a tornar incerto o desempenho da economia em 2022. “Se tivermos um processo eleitoral civilizado, poderemos ter um ano relativamente estável”, acredita.

Para ele, os discursos de crise institucional afugentam os investimentos. “As eleições vão ser importantes para testar as instituições brasileiras. As incertezas tendem a fazer os investidores aguardar a poeira baixar para depois definirem o ritmo dos investimentos”, disse. “2023 ainda é uma grande incógnita”, completou.